Quem tem medo da verdade?
por Hildegard Angel, no Jornal do Brasil, via Conversa Afiada
CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos...
por Hildegard Angel, no Jornal do Brasil, via Conversa Afiada
CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos...
POIS BEM: é impressionante o tiroteio de emails de gente da direita truculenta, aqueles que se pensava Haviam arquivado os coturnos, que despertam como se fossem zumbis ressuscitados e vêm assombrar nosso cotidiano com elogios à ação sanguinária dos ditadores, os quais torturaram e mataram nos mais sórdidos porões deste país, com instrumentos de tortura terríveis, barbaridades medievais, e trucidaram nossos jovens idealistas, n a grande maioria universitários da classe média, que se viram impedidos, pelos algozes, de prosseguir seus estudos nas escolas, onde a liberdade de pensamento não era permitida, que dirá a de expressão!...
E AGORA, com o fato distante, essas múmias do passado tentam distorcer os cenários e os personagens daquela época, repetindo a mesma ladainha de demonização dos jovens de esquerda, classificando-os de “terroristas”, quando na verdade eram eles que aterrorizavam, torturavam, detinham o canhão, o poder, e podiam nos calar, proibir, censurar, matar, esquartejar e jogar nossos corpos, de nossos filhos, pais, irmãos, no mar... E MENTIAM, mentiam, mentiam, não revelando às mães sofredoras o paradeiro de seus filhos ou ao menos de seus corpos. Que história triste! Eles podiam tudo, e quem quisesse reclamar que fosse se queixar ao bispo...
ELES TINHAM para eles as melhores diretorias, nas empresas públicas e privadas, eram praticamente uma imposição ao empre sariado — coitado de quem não contratasse um apadrinhado — e data daquela época esse comportamento distorcido e desonesto, de desvios e privilégios, que levou nosso país ao grau de corrupção que, só agora, com liberdade da imprensa, para denunciar, da Polícia Federal, para apurar, do MP, para agir, nos é revelado...
DE MODO cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre...
DE MODO cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre...
QUEREM COMPARAR aqueles que perderam tudo — os entes que mais amavam, a saúde, os empregos, a liberdade e, alguns, até o país — com aqueles que massacraram e jamais responderam por isso.
Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio...
Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio...
TODOS OS países no mundo onde houve ditadura constitu íram comissões da Verdade e Justiça. De Portugal à Espanha, passando por Chile, Grécia, Uruguai, Bolívia e Argentina, que agora abre seus arquivos daqueles tempos, o que a gente, aqui, até hoje não conseguiu fazer...
QUE MEDO é esse de se revelar a Verdade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?...
2 comentários:
A padroeira
A pequena Capela de Nossa Senhora do Rosário do Padre Faria é uma das tantas jóias arquitetônicas de Ouro Preto. O exterior despojado não prepara o visitante para a opulência barroca do seu interior.
O campanário fica afastado do corpo da igreja e nada tem de imponente.
Os sinos da Capela de Padre Faria badalam em concerto com os outros sinos da região, cantando as horas e os eventos, e não soam nem melhor nem pior do que os outros.
Mas os sinos da Capela do Padre Faria têm uma história diferente dos outros.
Quando Tiradentes foi enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro todos os outros celebraram a notícia.
Afinal, tratava-se da execução de um traidor, de um inimigo da sociedade. Os sinos de Ouro Preto festejaram o castigo exemplar de um réprobo e o triunfo da legalidade sobre a rebeldia.
Mesmo que o toque festivo não tivesse sido recomendado às igrejas pela Coroa, a celebração se justificaria.
Mas os sinos da Capela do Padre Faria dobraram Finados.
Pela primeira e única vez na história, talvez, os sinos da Capela do Padre Faria destoaram do concerto.
Tocaram, sozinhos, uma batida fúnebre pelo martírio de Tiradentes.
Não conheço bem a história e não sei o que motivou as badaladas subversivas.
Um pedido de secretos simpatizantes da Inconfidência?
Apenas uma manifestação de piedade cristã? Um sineiro bêbado? Não sei.
Minha tese preferida é que alguém responsável pelos sinos teve um vislumbre histórico.
Teve a presciência que ninguém mais teve e ordenou o toque plangente, em homenagem precoce ao futuro herói e pelo ocaso do poder colonial que seu sacrifício desencadearia.
Nossa Senhora do Rosário serviria como padroeira, não de quem consegue adivinhar a História, mas de quem vê além das mesquinharias do cotidiano e entende o momento que está vivendo. Jornalistas, principalmente, deveriam ir regularmente em romaria à pequena capela e pedir a bênção dessa Nossa Senhora do Contexto Maior, o que lhes daria um senso de História.
Pois somos dados a badalar em conjunto o que não tem importância, ou o fato errado, e a menosprezar a batida diferente dos que vêem mais longe. Ou tentam.
Os sineiros de Ouro Preto não tinham como saber que estavam festejando a morte de um herói.
Faltava-lhes a perspectiva histórica para entender o momento e só cumpriram o que se esperava deles.
Estão perdoados.
Mas que nos sirvam de lição.
Luis FernandoVerissimo
Dr. Deodato um Homem de Vanguarda.
Que Deus o ilumine sempre.
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