quinta-feira, 2 de abril de 2009

BOA VIAGEM E BOAVIAGENSES

"É graça divina começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa.Mas a graça das graças é não desistir nunca."D. Helder Câmara
...Em 1925, cheguei em Boa Viagem como proprietário da única farmácia da cidade.
A vaidade de apresentar ao público uma botica meio moderna, com vitrinas e grades reluzentes de verniz copal levara-me a arrumar com diligência os vidros de Saúde da Mulher, Bromil, Biotônico Fontoura, Água Inglesa, Elixir Mururé, Nogueira, Peitoral do Cambará, Xarope Roche, Ankilol, Panvermina, Anquilostomina, acompanhada da história de Jeca Tatu.
As injeções de Thiosol deixavam os braços com manchas azuis; a 914 vez por outra matava um cristão e a Aluetina número 1 e número 2 eram injeções como Thiosol e 914 usadas, contra a sífilis, indiferentemente das reações de Kahn, Kline e Wasserman. A “lues”, doença contagiosa produzida por um micróbio, o Treponema Pallidum, não poupa vida por gerações seguidas.
Havia também a exposição de pílulas, sabonetes e perfumes, dos quais o mais procurado pela classe média era o “Flor de Amor”.
Em Boa Viagem, ainda na década de 20, as distrações eram minguadas. Falava-se de política, jogava-se sinuca ou baralho, ou dedilhavam-se instrumentos de corda ao som de melodias apaixonadas. A chegada de um circo ou de cancioneiros com as suas violas, as quadrinhas amorosas e brejeiras, os desafios, as trovas e os sambas caipiras mudavam o aspecto triste da cidade.
Em um dia da semana, havia reunião pública: era quando chegava a mala do correio, trazida em lombo de burro.
Junho e dezembro eram os meses desejados e aguardados com ansiedade.
As festas do Coração de Jesus e da Santa Padroeira tinham seus noiteiros escolhidos pelo vigário. Praças com lindas barracas, enfeitadas com palhas de coqueiros e bandeiras multicores, partidos encarnado e azul, prisões, jogos diversos, vendas de adivinhações e sortes e, no final do novenário, o sarau dançante na Casa da Câmara. Tudo isso fazia o modo simples de viver dessa e de outras cidades interioranas. Estávamos acostumados com o nosso cotidiano e assim vivíamos, com minha paz e tristeza.
Trechos do livro”Recordações de um Boticário”, de Antenor Gomes de Barros Leal (* 1903 † 2002)

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa Viagem possui muitas figuras ilustres como Sr. Antenor e que sempre contribuíram de alguma forma com o seu progresso. categorias como: empresários,intelectuais,políticos, educadores,religiosos. Fizemos uma pesquisa na gestão passada, sob os auspícios do UNICEF, quando resgatamos muitos valores que podem ser lembrados como referencia. Quantos Boaviagenses ja contribuíram com sua terra,exaltando-a em versos e prosa? Boa Viagem é possuidora de um quadro de profissionais liberais do mais alto quilate, inclusive com destaque nacional como é o caso do Ministro josë Cândido.