Nos 83 anos de Fidel - por Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa.
Lembranças da ida a Cuba em 1960, com Jânio Quadros, a vinda de Fidel e Che ao Brasil em 1961 e a planejada condecoração. Jânio presidente, preparando a renúncia.
O tempo implacável e invencível. Em 1960, em plena campanha para presidente, Jânio Quadros foi a Cuba. (Num avião fretado, levou 29 jornalistas, este repórter entre eles). Como sempre, José Aparecido comandando tudo.
No avião, apenas dois não-jornalistas. Afonso Arinos, que esperava ser chanceler e foi. Adauto Cardoso, que esperava ser ministro da Justiça, não foi.
Fidel e Che Guevara, no auge da popularidade, andavam na rua com os jornalistas brasileiros, ou conversavam conosco na residência do embaixador do Brasil, Vasco Leitão da Cunha, depois ministro do Exterior, cargo mais tarde surpreendentemente ocupado por diplomatas do segundo time, que quando estavam no Instituto Rio Branco, escutavam: Esse não chegará a embaixador. Um deles, Celso Amorim, mas não apenas ele.
Eu já estivera em Cuba duas vezes, no Poder, um personagem corruptíssimo, com o mesmo nome, mas duas patentes diferentes. Era Fulgêncio Batista, que tomou o Poder como SARGENTO, foi derrubado, voltou mais tarde. E deu a si mesmo a patente de MARECHALÍSSIMO.
A enorme popularidade de Fidel e seus companheiros vinha da expectativa de liberdade, e a derrubada daquele LADRÃO público, que proporcionalmente roubou mais que Berlusconi, embora isso pareça impossível. Batista fugiu imediatamente, no momento exato em que surgia o 1º de janeiro de 1959.
Os tempos iniciais de Fidel e Che foram de glória e reconhecimento mundial. O papa aplaudia os revolucionários, seu relacionamento com os EUA, o mais cordial e democrático possível. (Sem esquecer que começaram fatos estranhos, como o desaparecimento do bravo e destacado Camilo Cienfuegos).
O jornalista Herbert Matthews, principal repórter do New York Times, tinha casa em Havana. (Foi chamado de editor, cargo que jamais ocupou, recusou sempre, queria ser o que foi com enorme destaque: repórter, correndo o mundo). Ficamos lá 9 dias, mandava como habitualmente artigo e coluna para o bravo Diário de Notícias.
Numa dessas matérias, dizia textualmente: Gostei de conversar com Fidel, mas quem me impressionou mesmo foi Che Guevara. Em 1961, Fidel veio ao Brasil com Che Guevara, a convite do já presidente Jânio Quadros, que lhe deu a maior condecoração.
Diziam, e conhecendo Jânio nenhuma surpresa, que o convite e a condecoração faziam parte da renúncia forjada, mas que, contra a vontade dele, aconteceu mesmo.
Não quero contar a História, apenas o meu conhecimento. Em 1962, a lamentável invasão da Baía dos Porcos, a iminência de uma guerra atômica por causa dos mísseis em Cuba, a batalha que se transferiu para a diplomacia, a vitória do embaixador dos EUA na ONU, Adlai Stevenson, antes e surpreendentemente derrotado duas vezes para presidente dos EUA.
Algum tempo depois, o jornalista Jean-Jacques Servan-Schreiber, repórter e diretor do Le Express, um dos muitos sucedâneos da revista Time, o mesmo que acontecera com a revista Life. (As duas pertencentes ao poderoso Henry De Luce, também dono da Fortune e da Sport Ilustrated, ainda hoje a maior revista esportiva dos EUA).
Schreiber escreveu: Estive na Arábia Saudita, encontrei com Che Guevara, presidente do Banco Central de Cuba. Normalmente, perguntei como ele ia, me respondeu de forma estranha. Só que, apesar de repórter viajado, Schreiber não percebeu, pouco depois Che deixava o cargo e a própria Cuba, nunca mais se encontrou com Fidel.
E não muitos anos depois, Che era assassinado, num dos mais extraordinários acontecimentos, depois dos também assassinatos de John Kennedy, Martin Luther King, Robert Kennedy e até de Jimmy Hoffa, que controlava o maior sindicato do mundo, o dos caminhoneiros, era candidato a presidente. Seu corpo jamais apareceu.
O rompimento Cuba-EUA teria que ocorrer. Fidel não tinha formação ou convicão comunista, o irmão Raul, sim. Mas Raul, durante 45 anos chefe das Forças Armadas, jamais apareceu. Estive em Cuba 5 vezes, duas depois de Fidel, nunca falei nem vi Raul. Ninguém via, sua lealdade ao irmão, total.
Mas sem recursos, e com a União Soviética poderosa e sem problemas, o financiamento e o domínio, mesmo de longe, inevitável. E facilitando as coisas para Cuba e a União Soviética, a burríssima política externa dos EUA. Burrice que se acentuou com a Guerra Fria, quando gastaram talvez mais do que agora, como os aventureiros financeiros.
Fidel só deixou o Poder por causa da doença, jamais imaginou ou acreditou que fosse contestado (mas não traído, como dizem) pelo irmão, deliberadamente em silêncio e na voluntária obscuridade.
A ltima vez que estive em Cuba: 1987, seminário sobre Dívida Externa. Extraordinário. Do Brasil, apenas três jornalistas: Newton Carlos, Argemiro Ferreira e este repórter. Presidindo em rodízio: Gabriel Garcia Marquez, Isabel Allende, Perez Esquivel (Pr�mio Nobel da Argentina), Luiz Carlos Prestes e mais uns 40.
Não-jornalistas estavam: Severo Gomes, Frei Beto, Marilena Chau, Cristina Tavares e Luiz Inácio Lula da Silva, que já preparava a candidatura a presidente, para 1989 ou 1990, dependendo do mandato que Sarney (sempre ele, sempre ele) exigia. Não obtendo os 6 anos, a eleição foi mesmo em 1989.
Lembranças da ida a Cuba em 1960, com Jânio Quadros, a vinda de Fidel e Che ao Brasil em 1961 e a planejada condecoração. Jânio presidente, preparando a renúncia.
O tempo implacável e invencível. Em 1960, em plena campanha para presidente, Jânio Quadros foi a Cuba. (Num avião fretado, levou 29 jornalistas, este repórter entre eles). Como sempre, José Aparecido comandando tudo.
No avião, apenas dois não-jornalistas. Afonso Arinos, que esperava ser chanceler e foi. Adauto Cardoso, que esperava ser ministro da Justiça, não foi.
Fidel e Che Guevara, no auge da popularidade, andavam na rua com os jornalistas brasileiros, ou conversavam conosco na residência do embaixador do Brasil, Vasco Leitão da Cunha, depois ministro do Exterior, cargo mais tarde surpreendentemente ocupado por diplomatas do segundo time, que quando estavam no Instituto Rio Branco, escutavam: Esse não chegará a embaixador. Um deles, Celso Amorim, mas não apenas ele.
Eu já estivera em Cuba duas vezes, no Poder, um personagem corruptíssimo, com o mesmo nome, mas duas patentes diferentes. Era Fulgêncio Batista, que tomou o Poder como SARGENTO, foi derrubado, voltou mais tarde. E deu a si mesmo a patente de MARECHALÍSSIMO.
A enorme popularidade de Fidel e seus companheiros vinha da expectativa de liberdade, e a derrubada daquele LADRÃO público, que proporcionalmente roubou mais que Berlusconi, embora isso pareça impossível. Batista fugiu imediatamente, no momento exato em que surgia o 1º de janeiro de 1959.
Os tempos iniciais de Fidel e Che foram de glória e reconhecimento mundial. O papa aplaudia os revolucionários, seu relacionamento com os EUA, o mais cordial e democrático possível. (Sem esquecer que começaram fatos estranhos, como o desaparecimento do bravo e destacado Camilo Cienfuegos).
O jornalista Herbert Matthews, principal repórter do New York Times, tinha casa em Havana. (Foi chamado de editor, cargo que jamais ocupou, recusou sempre, queria ser o que foi com enorme destaque: repórter, correndo o mundo). Ficamos lá 9 dias, mandava como habitualmente artigo e coluna para o bravo Diário de Notícias.
Numa dessas matérias, dizia textualmente: Gostei de conversar com Fidel, mas quem me impressionou mesmo foi Che Guevara. Em 1961, Fidel veio ao Brasil com Che Guevara, a convite do já presidente Jânio Quadros, que lhe deu a maior condecoração.
Diziam, e conhecendo Jânio nenhuma surpresa, que o convite e a condecoração faziam parte da renúncia forjada, mas que, contra a vontade dele, aconteceu mesmo.
Não quero contar a História, apenas o meu conhecimento. Em 1962, a lamentável invasão da Baía dos Porcos, a iminência de uma guerra atômica por causa dos mísseis em Cuba, a batalha que se transferiu para a diplomacia, a vitória do embaixador dos EUA na ONU, Adlai Stevenson, antes e surpreendentemente derrotado duas vezes para presidente dos EUA.
Algum tempo depois, o jornalista Jean-Jacques Servan-Schreiber, repórter e diretor do Le Express, um dos muitos sucedâneos da revista Time, o mesmo que acontecera com a revista Life. (As duas pertencentes ao poderoso Henry De Luce, também dono da Fortune e da Sport Ilustrated, ainda hoje a maior revista esportiva dos EUA).
Schreiber escreveu: Estive na Arábia Saudita, encontrei com Che Guevara, presidente do Banco Central de Cuba. Normalmente, perguntei como ele ia, me respondeu de forma estranha. Só que, apesar de repórter viajado, Schreiber não percebeu, pouco depois Che deixava o cargo e a própria Cuba, nunca mais se encontrou com Fidel.
E não muitos anos depois, Che era assassinado, num dos mais extraordinários acontecimentos, depois dos também assassinatos de John Kennedy, Martin Luther King, Robert Kennedy e até de Jimmy Hoffa, que controlava o maior sindicato do mundo, o dos caminhoneiros, era candidato a presidente. Seu corpo jamais apareceu.
O rompimento Cuba-EUA teria que ocorrer. Fidel não tinha formação ou convicão comunista, o irmão Raul, sim. Mas Raul, durante 45 anos chefe das Forças Armadas, jamais apareceu. Estive em Cuba 5 vezes, duas depois de Fidel, nunca falei nem vi Raul. Ninguém via, sua lealdade ao irmão, total.
Mas sem recursos, e com a União Soviética poderosa e sem problemas, o financiamento e o domínio, mesmo de longe, inevitável. E facilitando as coisas para Cuba e a União Soviética, a burríssima política externa dos EUA. Burrice que se acentuou com a Guerra Fria, quando gastaram talvez mais do que agora, como os aventureiros financeiros.
Fidel só deixou o Poder por causa da doença, jamais imaginou ou acreditou que fosse contestado (mas não traído, como dizem) pelo irmão, deliberadamente em silêncio e na voluntária obscuridade.
A ltima vez que estive em Cuba: 1987, seminário sobre Dívida Externa. Extraordinário. Do Brasil, apenas três jornalistas: Newton Carlos, Argemiro Ferreira e este repórter. Presidindo em rodízio: Gabriel Garcia Marquez, Isabel Allende, Perez Esquivel (Pr�mio Nobel da Argentina), Luiz Carlos Prestes e mais uns 40.
Não-jornalistas estavam: Severo Gomes, Frei Beto, Marilena Chau, Cristina Tavares e Luiz Inácio Lula da Silva, que já preparava a candidatura a presidente, para 1989 ou 1990, dependendo do mandato que Sarney (sempre ele, sempre ele) exigia. Não obtendo os 6 anos, a eleição foi mesmo em 1989.
PS1: Lula perderia essa, a de 1994 e a de 1998. No mundo, só outro homem perderia três vezes, embora não seguidas. Foi o pastor William Jennings Bryan, nos EUA. Carregava multidões para as suas pregações religiosas, mas os transformava em eleitores. Perdeu em 1896, 1900 e 1908. Não ganhou nenhuma.
PS2: Ao contrário de Lula, que perdeu três, ganhou duas e pretende igualar o placar. Ou Fidel, que não perdeu desde 1959, exatamente 50 anos.
PS2: Ao contrário de Lula, que perdeu três, ganhou duas e pretende igualar o placar. Ou Fidel, que não perdeu desde 1959, exatamente 50 anos.
(Colaborador professor Alfredo Carlos)
3 comentários:
PARABÉNS ALFREDO CARLOS E AO BLOG POR POSTAR COLUNA DO ´MAIOR JORNALISTA BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPO,Hélio Fernandes FALANDO DA REVOLUÇÃO CUBANA, DE FIDEL E LEMBRANDO O GRANDE CHE GUEVARA.
ESTAM EM CARTAZ DOIS FILMES SOBRE O TEMA: CHE GUEVARA( O Argentino);che Guevara ( o revolucionário) imperdível.
Márcio Ary
Amigos blogueiros,
Aos 83 anos de idade Fidel Castro é lembrado no mundo todo. Mesmo estando acamado faz anos, ele jamais foi esquecido pela sua grande história de lutas e pelo que fez pelo povo cubano. Homens como Fidel são raros, coragem, fibra, decência, honestidade, cultura e amor a sua pátria. Ainda hoje, mesmo estando doente, Fidel Castro incomoda ao Capitalismo selvagem de todo o mundo.
PS. Grande abraço ao amigo e correligionário Dr. Márcio Ary, exemplo bem vivo para todos.
Amigos blogueiros,
Vejam o sorriso agradável e feliz de Ernesto Guevara, sorriso limpo, puro de satisfação e decência. Após a vitória no meio do povo ele e Fidel Castro prestando contas ao seu povo e ao mundo. O Grande Médico Argentino da Provícia de Rosário, poderia ter ficado milionário em sua terra natal, não quis, preferiu se unir ao povo Cubano para derrotar a tirania de Fulgêncio Batista. Morreu covardemente em 1967, o mataram pelas costas com vários tiros na Bolívia. Jamais o mundo ou qualquer homem de bem esquecerá o feito de Che Guevara.
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