A poetisa, a mística e a gata
Fonte: O POVO Online/OPOVO/Mundo
28.02.2011 01:30
Fonte: O POVO Online/OPOVO/Mundo
28.02.2011 01:30
A Igreja Católica italiana apresenta em sua história uma contradição fecunda. Por um lado há a presença forte do Vaticano, representando a Igreja oficial com sua massa de fiéis mantidos sob vigilante controle social pelas doutrinas e especialmente pela moral familiar e sexual. Por outro, há a presença de cristãos leigos e leigas não alinhados, resistentes ao poder monárquico e implacável da burocracia da Cúria romana mas abertos ao evangelho e aos valores cristãos sem romper com o Papado embora críticos de suas práticas e do apoio que dá a regimes conservadores e até autoritários.
Assim temos a figura de Antônio Rosmini no século XIX, fino filósofo e crítico do antimodernismo dos papas. Modernamente identificamos figuras como Mazzolari, Raniero La Valle, Arturo Paoli, a eremita Maria Campello. Entre todos destaca-se Adriana Zarri, eremita, teóloga, poetisa e exímia escritora. Além de vários livros, escrevia semanalmente no diário Il Manifesto e quinzenalmente na revista de cultura Rocca.
Era duríssima contra o atual curso da Igreja sob os Papas Wojtyla e Ratzinger a quem acusava diretamente de trair os intentos de reforma provados pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e voltar a um modelo medieval de exercício de poder e de presença da Igreja na sociedade. Veio a falecer no dia 18 de novembro de 2010 com mais de 90 anos.
Visitei-a por algumas vezes em seu eremitério perto de Strambino no norte da Itália. Vivia só num enorme e vetusto casarão, cheio de rosas e com sua gata de estimação Arcibalda. Tinha uma capela com o Santíssimo exposto para onde se recolhia várias horas por dia em oração e profunda meditação.
Na conversa com ela, queria saber tudo das comunidades eclesiais de base, do engajamento da Igreja na causa dos pobres, dos negros e dos indígenas. Tinha um carinho especial pelos teólogos da libertação por causa da perseguição que sofriam por parte das autoridades do Vaticano que os tratavam, segundo ela, “a bastonadas”enquanto usavam luvas de pelica aos seguidores do cismático Mons. Lefebvre.
Seu último artigo, publicado três dias antes de sua morte, dedicou-o à gatinha de estimação Arcibalda. Com ela, como pude testemunhar pessoalmente, possuía uma relação afetuosa como de íntimos amigos. Aquilo que a nossa grande psicanalista junguiana Nise da Silveira descreveu em seu livro Gatos, a emoção de lidar o confirmou Zarri:”o gato tem a capacidade de captar o nosso estado de alma; se me vê chorando, logo vem lamber minhas lágrimas”. Contam que a gata esteve junto dela enquanto expirava. Ao ver os amigos chegarem para o velório, se enrolava, nervosa, na cortina da sala. Como se soubesse a hora, discretamente, pouco antes de fecharem o féretro, entrou discretamente na capela.
Alguém, sabendo do amor da gatinha por Adriana Zarri, pegou-a no colo e a aproximou ao rosto da defunta. Fixou-a longamente e parecia que lacrimejava. Depois colocou-se debaixo do féretro e aí permaneceu em absoluta quietude.
Isso me reporta à nossa gata, a Branquinha. Parece uma menina frágil e elegante. Apegou-se de tal maneira à minha companheira Márcia que sempre a acompanha e dorme a seus pés, especialmente, quando passa por algum aborrecimento. Ela capta seu estado de alma e procura consolá-la roçando-se nela e miando suavemente.
Adriana Zarri deixou uma epígrafe que vale a pena ser reproduzida: ”Não me vistam de preto: é triste e fúnebre. Nem me vistam de branco porque é soberbo e retórico. Vistam-me de flores amarelas e vermelhas e com asas de passarinho. E Tu, Senhor, olhe minhas mãos. Talvez tenham colocado um rosário, talvez uma cruz. Mas se enganaram. Nas mãos tenho folhas verdes e sobre a cruz, a tua ressurreição. E sobre minha tumba não coloquem mármore frio com as costumeiras mentiras para consolar os vivos. Deixem que a terra escreva, na primavera, uma epígrafe de ervas. Ali se dirá que vivi e que espero. Então, Senhor, tu escreverás o teu nome e o meu, unidos como duas pétalas de papoulas”.
A mística dos olhos abertos, Adriana Zarri, nos mostrou como viver e morrer bela e docemente.
Assim temos a figura de Antônio Rosmini no século XIX, fino filósofo e crítico do antimodernismo dos papas. Modernamente identificamos figuras como Mazzolari, Raniero La Valle, Arturo Paoli, a eremita Maria Campello. Entre todos destaca-se Adriana Zarri, eremita, teóloga, poetisa e exímia escritora. Além de vários livros, escrevia semanalmente no diário Il Manifesto e quinzenalmente na revista de cultura Rocca.
Era duríssima contra o atual curso da Igreja sob os Papas Wojtyla e Ratzinger a quem acusava diretamente de trair os intentos de reforma provados pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e voltar a um modelo medieval de exercício de poder e de presença da Igreja na sociedade. Veio a falecer no dia 18 de novembro de 2010 com mais de 90 anos.
Visitei-a por algumas vezes em seu eremitério perto de Strambino no norte da Itália. Vivia só num enorme e vetusto casarão, cheio de rosas e com sua gata de estimação Arcibalda. Tinha uma capela com o Santíssimo exposto para onde se recolhia várias horas por dia em oração e profunda meditação.
Na conversa com ela, queria saber tudo das comunidades eclesiais de base, do engajamento da Igreja na causa dos pobres, dos negros e dos indígenas. Tinha um carinho especial pelos teólogos da libertação por causa da perseguição que sofriam por parte das autoridades do Vaticano que os tratavam, segundo ela, “a bastonadas”enquanto usavam luvas de pelica aos seguidores do cismático Mons. Lefebvre.
Seu último artigo, publicado três dias antes de sua morte, dedicou-o à gatinha de estimação Arcibalda. Com ela, como pude testemunhar pessoalmente, possuía uma relação afetuosa como de íntimos amigos. Aquilo que a nossa grande psicanalista junguiana Nise da Silveira descreveu em seu livro Gatos, a emoção de lidar o confirmou Zarri:”o gato tem a capacidade de captar o nosso estado de alma; se me vê chorando, logo vem lamber minhas lágrimas”. Contam que a gata esteve junto dela enquanto expirava. Ao ver os amigos chegarem para o velório, se enrolava, nervosa, na cortina da sala. Como se soubesse a hora, discretamente, pouco antes de fecharem o féretro, entrou discretamente na capela.
Alguém, sabendo do amor da gatinha por Adriana Zarri, pegou-a no colo e a aproximou ao rosto da defunta. Fixou-a longamente e parecia que lacrimejava. Depois colocou-se debaixo do féretro e aí permaneceu em absoluta quietude.
Isso me reporta à nossa gata, a Branquinha. Parece uma menina frágil e elegante. Apegou-se de tal maneira à minha companheira Márcia que sempre a acompanha e dorme a seus pés, especialmente, quando passa por algum aborrecimento. Ela capta seu estado de alma e procura consolá-la roçando-se nela e miando suavemente.
Adriana Zarri deixou uma epígrafe que vale a pena ser reproduzida: ”Não me vistam de preto: é triste e fúnebre. Nem me vistam de branco porque é soberbo e retórico. Vistam-me de flores amarelas e vermelhas e com asas de passarinho. E Tu, Senhor, olhe minhas mãos. Talvez tenham colocado um rosário, talvez uma cruz. Mas se enganaram. Nas mãos tenho folhas verdes e sobre a cruz, a tua ressurreição. E sobre minha tumba não coloquem mármore frio com as costumeiras mentiras para consolar os vivos. Deixem que a terra escreva, na primavera, uma epígrafe de ervas. Ali se dirá que vivi e que espero. Então, Senhor, tu escreverás o teu nome e o meu, unidos como duas pétalas de papoulas”.
A mística dos olhos abertos, Adriana Zarri, nos mostrou como viver e morrer bela e docemente.
Leonardo Boff , TEÓLOGO
Leonardo Boff
lboff@leonardoboff.com
Leonardo Boff
lboff@leonardoboff.com
10 comentários:
eu não posso calar-me diante de uma bela matéria quanto é essa e não ter despertado a curiosidade ou a emoção de um ser humano!!! quantos se preocupam com discussão que não nos leva a lugar nenhum, outras que só tentam denegrir a imagem de alguem e uma matéria dessa que nos mostra que o amor dos animais é muito verdadeiro, diferente dos seres humanos que se dizem ser humano, contudo não há lugar no coração para o amor e muito menos respeito ao seu próximo!!! glória a Deus e aos animais irracionais e Deus nos livre de certos racionais! racionais!!!
eu não posso calar-me diante de uma bela matéria quanto é essa e não ter despertado a curiosidade ou a emoção de um ser humano!!! quantos se preocupam com discussão que não nos leva a lugar nenhum, outras que só tentam denegrir a imagem de alguem e uma matéria dessa que nos mostra que o amor dos animais é muito verdadeiro, diferente dos seres humanos que se dizem ser humano, contudo não há lugar no coração para o amor e muito menos respeito ao seu próximo!!! glória a Deus e aos animais irracionais e Deus nos livre de certos racionais! racionais!!!
Cade o tal documento da Wikilili que se falou na semana passada para essa segunda.
Ou mais uma pra chamar atenção da população e dizer que o prefeito é sujo.
"Até segunda-feira a WikiLili divulgará o seu primeiro documento,
que diz respeito a caso do nosso município de Boa Viagem,
que representa uma verdadeira bomba."
deixem de palhaçada, tragam algo de futuro e mostrem seu dever perante a população carente de Boa Viagem.
O governo detalhou nesta segunda como vai ser feito o corte de mais de R$ 50 bilhões no orçamento da União. Um dos setores que vão receber menos dinheiro é o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Contas feitas, papel na mão. Depois de muitos estudos, os ministros da Fazenda e do Planejamento apresentaram os planos de cortes do governo. O freio começa nos gastos com pessoal: serão feitas auditorias em busca de fraudes na Previdência, no pagamento de seguro desemprego, abono salarial. Concursos públicos e contratação, adiados. Sairão daí, das chamadas despesas obrigatórias, quase R$ 16 bilhões. Outros R$ 36 bilhões virão do corte das despesas do dia a dia dos ministérios, como, por exemplo, diárias e passagens que serão reduzidas à metade. E de investimentos: R$ 18 bilhões em emendas parlamentares. E apesar de o governo garantir que o PAC não vai deixar de receber um centavo, o programa Minha Casa, Minha Vida 2, que faz parte do PAC, sofreu uma redução de R$ 5 bilhões. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, explica que o objetivo do governo é diminuir o ritmo do crescimento para conter a inflação.
E o corte na educação? Ninguem fala nada? Ah, já sei. Educar para quê! Basta saber escrever o nome no dia da eleição.Resumindo: este governo é um blefe e a oposição...deixa pra lá.
Muito estranho a Dilma mandar cortar os investimentos do minha casa minha vida. Não era ela que ia constuir milhões de casas para as pessoas de baixa renda? Não era ela que ia aumentar esse valor para que a população mais pobre tivesse acesso? Sera que essa é a "herença bendita" que o molusco deixou para ela?
Agora não tem como criticar governos anteriores e a verdadeira face esta a mostra...
PT um péssimo exemplo para o Brasil
O que Dilma diz é uma coisa; o que faz é outra!
1- Durante a campanha, sempre negou a necessidade de ajuste fiscal, pois o país vivia um 'momento mágico'
Resultado - Menos 50 bi do Orçamento.
2- Em janeiro, Dilma afirmou que não considerava a inflação fora de controle.
Resultado - Em janeiro houve a maior inflação mensal dos últimos 5 anos.
3- Tanto o Criador (Lula) quanto a criatura (Dilma) negavam enfaticamente cortes no PAC.
Resultado - Menos 5 bi do "Minha Casa, Minha Vida"
O GOVERNO NÃO DISSE QUE OS GASTOS PUBLICOS AUMENTARAM E MUITO NO ULTIMO ANO GOVERNO LULA, ELE NÃO DISSE QUE FEZ MENOS CASAS DO QUE
ANUNCIOU APOS 8 ANOS NO PODER, DILMA QDO ENTROU DISSE QUE FARIA CERCA
DE 2 MILHOES DE MORADIAS, AGORA FALA QUE NÃO VAI PODER? SIMPLES BOBO
DE QUEM ACREDITOU, SE OUTRO PARTIDO QUALQER GANHASSE ELEIÇOES QUE
NÃO PT JA NOS PRIMEIROS DIAS, SERIA CONSTATADO ESTE FATO.
POR ISTO É IMPORTANTE QDO UM SAI OQUE ENTRA SEJA DO MESMO PARTIDO POIS
EMCOBRE AS PICARETAGENS ANTERIORES.
Peço calma ao defensor das Assafadezas, como diz um blogueiro. A Wikilili ainda não divulgou o documento porque ainda precisa checar uma última informação antes de disponibilizá-lo ao conhecimento de todos.
Quanto ao salário mínimo: é impressionante a desinformação de alguns. De fato, no governo Lula, até aqui o melhor da história do Brasil (é só analisar os números e comparar), o salário mínimo teve crescimento real de 53% (cinquenta e três por cento). O novo mínimo segue a mesma fórmula adotada naquele período.
O ANONIMO do dia 28 de fevereiro de 2011 22:13 fala que PT é um péssimo exemplo para o Brasil.
EU PERGUNTO: Será que o Fernando Assef é do PT? porque ele é um péssimo gestor e nada faz por Boa Viagem.
O que representa mesmo é corrupção.
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