segunda-feira, 23 de setembro de 2013

RESGATANDO O AFETO.

“Resgatando o afeto" - Jornal O POVO - 22.09.2013.

O afeto é um sentimento simples, em que se acolhe o outro em sua inteireza, do jeito que ele é. Da infância até a morte, o afeto é vital, e dá sustentação e sentido ao nosso conviver. Nas parcerias, há uma tendência a garantir a posse do outro, como se ele fosse um troféu, uma tábua de salvação, não uma pessoa com quem se partilha afeto. Os “machões” dizem que afeto é coisa de mulher, ou de gente frágil.
Lamentavelmente em nossa cultura, afeto e ternura, tornaram-se sinônimos de fragilidade. Talvez se privem do afeto em seu endurecimento, mas por fraqueza, por medo de fazer vínculos, de gostar de alguém. “A doçura”, diz Sponville, “é uma coragem sem violência, uma força sem dureza, um amor sem cólera”. Penso assim também em relação ao afeto, como uma força tranquila, parecida com o amor.
Devemos converter nosso olhar em relação ao outro para que a harmonia e afeto possam encontrar espaços entre nós. O modo como o olhamos, produz vínculos ou afastamentos. Um olhar é como um discurso. Diz, revela, condena, perdoa, acaricia ou pune. Pelo olhar, escutamos a dor, a alegria, a inquietação, a solidão, o prazer. Precisamos valorizar a força que tem o olhar e o poder da comunicação do rosto. Na mostra banalizada dos corpos em nossa cultura, esquecemos que é pelo rosto que nos encontramos com o outro, que é pelo olhar que nasce o afeto. O deslocamento de nosso olhar para regiões “siliconadas”, como lócus de prazer, afasta-nos do sentido humano de ver o homem todo, a pessoa.
Os dias atuais apontam para uma necessidade maior de afeto e menos violência. É preciso ensaiar de novo o amor, resgatar a afetividade, para que possamos ver “os cinquenta tons de cinza do arco íris”, a vida nos olhos dos outros, a generosidade das pessoas, a dor do irmão que sofre, a carência do filho que chora, o som da chuva. Precisamos reaprender o exercício de pequenas expressões civilizadas e afetivas. Desarmar nossa internalidade e não ter a vergonha de ser afetivo.
Minha preocupação tem se voltado para a frequente condição de mal estar em que estamos vivendo. De certo modo, estamos contagiados pela agonia coletiva da humanidade e falar disso é uma tentativa de pensá-la, preveni-la, atenuá-la. Talvez devamos começar a pensar também em caminhos que possibilitem algumas saídas desse círculo vicioso do sofrimento, da violência, dos crimes, das corrupções e dos abusos de álcool e drogas. São múltiplas as possibilidades de tornar a vida mais humanizada, mais calorosa, mais significativa. Resgatar em nós a afetividade é uma dessas possibilidades construtivas.
Sempre que escrevo sobre sentimentos, sinto saudade dos abraços que não dei, dos afetos que não troquei, dos gestos que não foram feitos, dos afagos que economizei, dos olhares que não troquei. A vida tem pressa e ontem já se foi. Amanha é agora. A boa notícia é que se corrermos… ainda dá tempo!
Zenilce Vieira Bruno
zenilcebruno@uol.com.br
Psicóloga, sexóloga e pedagoga.

sábado, 14 de setembro de 2013

FICO LISONJEADO POR SER ELEVADO AO PATAMAR DE ANIMAL TÃO FUNDAMENTAL PARA A HUMANIDADE!




- Boa Viagem precisa de muito mais urubus. Muita carniça tem infelicitado a vida da nossa gente. Urubus são aves pacíficas, aparentemente frágeis diante de aves predadoras, mas fortes e extraordinariamente fundamentais para o equilíbrio ecológico, para a prevenção de doenças. 
- Quando uma "ave predadora" ataca um "Urubu" a cidade, o cidadão, deve correr em seu auxílio. Ele ajuda a livrar a cidade da sujeita, da imundície, das carcaças fétidas que habita a cidade e, sobretudo, o coração de "Aves predadoras".
 
Como os urubus conseguem comer carne podre?
por Yuri Vasconcelos
Os cientistas ainda não desvendaram totalmente esse mistério, mas acreditam que os urubus se deliciam com comida estragada sem passar mal graças ao seu sistema imunológico e ao potente suco gástrico secretado por seu estômago. Mas isso não significa que eles prefiram carne podre à fresquinha. Acontece que os urubus não têm habilidade para caçar, pois as garras de suas patas são ineficientes para essa tarefa. Assim, só lhes resta a carcaça de animais mortos. Apesar de feioso e com má fama, o urubu tem papel essencial na natureza. Como é um animal necrófago, que se alimenta de carne em putrefação, faz uma espécie de "faxina" nos locais onde vive, pois elimina do meio ambiente a matéria orgânica em decomposição. Para encontrar a refeição, eles contam com olfato e visão apurados. São capazes de ver um bicho pequeno a 3 mil metros de altura! Mas os urubus não cantam de galo: eles não têm siringe, o órgão vocal das aves, e só fazem uns barulhos esquisitos chamados de crocitar.
 I

mportância dos urubus e suas principais ameaças

Os urubus prestam serviços ecológicos vitais. Eles são necrófagos, responsáveis pela eliminação de 95% das carcaças de animais mortos na natureza, faz uma espécie de “faxina” nos locais onde vive, pois elimina do meio ambiente a matéria orgânica em decomposição. São nossos coletores naturais de lixo. Limpam as carcaças até os ossos. Ajudam a matar todas as bactérias. Ajudam a absorver o antrax, que de outro modo, se espalharia e causaria tremendas perdas de gado e doenças em outros animais. Estudos recentes mostram que em áreas nas quais não há urubus, as carcaças levam até 3 ou 4 vezes mais tempo para se decomporem e isso trás enormes consequências na propagação de doenças.

sábado, 7 de setembro de 2013

INDEPENDÊNCIA OU MORTE!

Qualificar a intervenção do cidadão na política nacional é um dos mais eficazes instrumentos da verdadeira independência! Fiz esse texto hoje, sem qualquer ilação com o dia 07 de setembro. Todavia, após publicá-lo no facebook, percebi que pode ser uma boa reflexão para esse dia.

A tragédia da política, que, aliás, salvo honrosas exceções de alguns sistemas, não parece ser só a nossa. Campanhas milionárias vão, cada vez, elitizando a política, abastecendo os escândalos e afastando quem ou não se dispõe a entrar nesse vil mercado - o do voto - ou não tem dinheiro nem financiador para entrar na disputa.

Claro, não podemos generalizar. Porém, é pura demagogia, cretinice ou hipocrisia negar essa grave defeituação do nosso processo eleitoral.

Declaração do hoje secretário Eduardo Diogo expressa muito bem esse mercado que caracteriza a vida política brasileira. Ainda ontem, conversando com uma amiga que, assim como eu, nasceu com a política em casa (aos três anos ajudava o pai a confeccionar as "famosas" forminhas para o voto do analfabeto), ela me contava a história que partilho nesta post. Aproveitei e contei situações que ocorreram comigo, com minha mãe Maria Zélia Cavalcante Ramalho e com meu filho Deodato José Ramalho Neto (que andou se entusiasmando para seguir meu passos entrando para a luta política. Acho que o episódio o fez repensar!).
Aqui no Ceará há deputado(s) que não pisam no Estado nem mesmo na época das campanhas. O "negócio" é mais do que escancarado.
O desanimador é que mesmo na efervescência das manifestações de ruas ninguém toca no assunto. Toda a desgraceira é apresentada como fruto de péssimos políticos. Demagogicamente ninguém fala da contaminação do processo eleitoral, com a apresentação do ato de COMPRAR dissociado do ato de VENDER. É como se todos tivéssemos medo de tocar o dedo na ferida, que significa dizer que, na mercância do voto, a operação envolve não apenas quem compra, mas também quem vende (e é ilusão achar que quem vende são apenas pessoas humildes. É não. A tragédia vai de A a Z).

Já advertindo que esse tipo de situação ocorre em qualquer recanto do Brasil. No interior e nas capitais, VAMOS LÁ (nenhum dos episódios é força de expressão. Ocorreram mesmo):

Declaração do secretário - Coluna Vertical - O POVO 07.09.2013:

"PREÇO DO VOTO

Bem que o secretário Eduardo Diogo (Planejamento), presidente do PSD de Fortaleza, sonhou com mandato em 2014. Mas, segundo amigos próximos, desistiu logo ao saber, principalmente, do preço da campanha."

Episódio 1 (comigo - 1988 - candidato a prefeito em Boa Viagem):

1. Na mais do que romântica campanha de 1988, do voto vinculado (Mauro governador; Dorian Sampaio senador; Moisés Pimentel deputado federal; Aroldo Mota - meu primo - deputado estadual e eu candidato a prefeito, dispúnhamos de um único veículo. Uma velha C-10 branca, que só funcionava aos empurrões. Ganhou logo o apelido, colocado, salvo engano, pelo Jacob Carneiro, então um membro influente da estrutura de poder do José Vieira Filho (Mazinho), de Branca de Neve. O fato: estávamos aguardando o sol esfriar um pouco para sair para uma reunião de campanha (naquele pleito a liseira jamais permitiu fazer um comício) em comunidade distante da sede (tínhamos que sair com horas de antecedência, por razões óbvias: a Branca de Neve sempre nos deixava na mão...). Chegam duas senhoras nos pedindo para levá-las a uma outra comunidade, localizada em sentido oposto. Eu próprio expliquei a nossa dificuldade, estávamos saindo em outra direção e só tínhamos a Branca de Neve etc etc. Elas saem, sem disfarçar a chateação, e uma verbera (literalmente): "DEPOIS ESSAS PRAGAS AINDA QUEREM QUE A GENTE VOTE NELES..."

Episódio 2 - (com minha mãe - 1996 - eu candidato a prefeito em Boa Viagem):

Minha mãe, sempre uma guerreira muito solidária, desde quando, aos dezessete (17) anos,  casou com meu saudoso pai Deodato José Ramalho (que era apaixonado por política e dedicou toda a sua vida aos seus conterrâneos, vindo a falecer em 1978 aos 47 anos de idade), visitava os eleitores em suas casas. Muito querida, com uma legião de compadres e comadres, fazia a peregrinação na busca de voto para o teimoso filho. Eis que chega em uma casa e a eleitora, isso depois de fazer festa com a presença da pessoa querida, benquista na sociedade etc etc... Começa a pedir algo como um "agrado" para votar. Diante de várias negativas, de discursos da minha mãe dizendo que quem compra vota não presta (lembrando Dom Aloísio "quem compra voto ou roubou ou vai roubar"), a eleitora, fixando o olhar nas duas alianças que demonstrava a viuvez da minha amada mãe, lançou o último apelo: "POIS DONA MARIA JÁ QUE A SENHORA TEM DUAS ALIANÇAS, ME DÊ UMA DESSAS...";

Episódio 3 - (com meu filho Deodato J. Ramalho Neto - eleição de 2010):

Mesmo não sendo candidato, desde que eu me entendo como gente, participo e acabo levando os que me são próximos a participar das campanhas dos candidatos do meu Partido. Em 2010 não foi diferente. Como não tive muito tempo de ir a Boa Viagem pedi ao meu filho para fazer algumas visitas para pedir voto para os nossos então candidatos Ilário e Rachel Marques. Sempre recebido festivamente em várias das casas visitadas, com expressão de carinho e, em muitos casos, de agradecimento por algo que eu já havia feito por ela ou alguém dela etc etc. Com alegria, e tenho certeza que era sincera, diziam "AH, GOSTO MUITO DO DEODATINHO, SEU PAI MEU FILHO JÁ ME AJUDOU MUITO...". Contudo, todavia, com honrosas exceções, na hora que se falava de voto, vinha a terrível proposta de negociação "tenho cinco votos em casa, eu tô vendendo, mas tô precisando de R$ 250,00...".

Episódio 4 (da minha amiga - eleição de 2012 em Fortaleza):

Candidato encontra algumas eleitoras e uma pede R$ 50,00 com a promessa de "voto garantido". Passados alguns minutos, eis que a eleitora retorna para devolver os R$ 50,00, o que motivou o estranhamento do candidato pelo gesto. Já estava pensando em algo positivo, em arrependimento pela venda do voto por parte da eleitora, quando ela explica: "estou devolvendo porque encontrei ali outro candidato que me deu R$ 150,00). No senso comum, lamentavelmente, o que é destacado como honestidade é a atitude de devolver o valor pelo qual havia vendido o voto anteriormente...

É trágico ou não é?