"FESTAS JUNINAS" , DESVIRTUAÇÕES CULTURAIS E CORRUPÇÃO.

O jornalista Fábio Campos (O POVO) tem abordado, ao longo dos últimos dias, as desvirtuações do que, no passado, era a melhor expressão cultural da nossa gente: as festas juninas. Além do péssimo mau gosto quanto ao estilo musical que, de regra, tem marcado esses eventos, com a total descaracterização do verdadeiro são João, o jornalista tem chamado a atenção para a verdadeira indústria da corrupção através das emendas parlamentares que destinam milhões de reais para esses eventos. Desses recursos quanto, por exemplo, é destinado para patrocínio de grupos folclóricos? Quanto é destinado para estimular grupos do autêntico forró pé de serra?

Na coluna de hoje o jornalista traz relevante contribuição a esse debate com a sociedade (v. abaixo):

A FARRA JUNINA E O LIXO CULTURAL

A Coluna de ontem tratou dos recursos financeiros do Orçamento da União que são dirigidos por meio das famosas emendas individuais para os festejos juninos de muitas cidades do Interior. Nada contra, mas há a suspeita de que um balcão de negócios permeie as liberações das emendas via Ministério do Turismo.

Na Coluna de hoje, duas ótimas contribuições de leitores em torno do tema. A primeira vem de Luis Carlos Sabadia: “Nossos municípios estão pouco a pouco perdendo suas já pequenas diferenciações culturais. O olhar dos gestores não é mais para o que se está festejando: São João, Carnaval, Dia da Padroeira ... mas sim para as atrações musicais duvidosas que se repetem de município em município. E assim tudo vai ficando igual. O sonho de consumo de 9 entre 10 prefeitos é a dupla ‘Vitor e Leo’. Quem vai para as festas volta no mesmo dia. Leva dentro da mala do carro toda a bebida e comida que necessita. Nas cidades promotoras das festa só fica lixo. Movimentar a economia da cidade ? Qual delas tem alguma estatística confiável que comprove isto?”

EM VEZ DE CULTURA, CIRCO E BRIOCHE

Continua Sabadia: “Estatísticas confiáveis são as que apontam a situação gritante dos municípios. Vejam os dados levantados pelo MinC através da pesquisa IBGE/MUNIC 2008:

a) 78% dos habitantes nunca foi a um espetáculo de dança;

b) 92% nunca foi a um museu

c) 13% da população vê um filme no cinema uma única vez por ano;

d) 93,4% nunca foi a uma exposição de arte;

e) 90% dos municípios brasileiros não possuem um único equipamento cultural;

d) produzimos 1,8 livros por pessoa/ano e 78% dos livros estão na mão de 13% da população;

e) 671 municípios no Brasil não possuem biblioteca; 405 deles estão no Nordeste.

Enfim, o dinheiro público pode e deve fazer mais. Temos muito, mas muito mesmo o que fazer nos municípios com estes recursos antes de festas e mais festas. Os municípios devem concluir seus Planos de Cultura, conforme indica a política do Sistema Nacional de Cultura. Verificar suas reais potencialidades e carência e trilhar este caminho. A construção da cidadania pelas vias da cultura é um princípio básico”.

"RECEBI PROPOSTAS DE 10% A 20%"

A outra missiva vem do ex-prefeito de Icó, José Jaime Bezerra Rodrigues Junior. O que ele diz é contundente. Vejam: “Parabéns pela Coluna que aborda o tema da farra com dinheiro público na realização de festas juninas. Fui prefeito da cidade de Icó e recebi muitas propostas de parlamentares ‘oferecendo’ emenda com comissão variando de 10% a 20%. Como não aceitei, também não recebi qualquer recurso dos governos federal e estadual para esse fim. Quando você coloca que as emendas vão chegar ao forró, gostaria de esclarecer que elas já chegaram, inclusive motivando denúncia que fiz no último dia 06/07/09 no jornal O POVO relativa ao FORRICÓ 2009 (ICÓ-CE), com contratação de bandas de forró antes mesmo da realização do processo licitatório, conforme documentação encaminhada em denúncia ao TCM e Ministério Público, a qual coloco também à disposição da Coluna”.