sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DENÚNCIA DA VEJA É DESMONTADA MAIS CEDO DO QUE SE ESPERAVA.TRISTE PAPELÃO DE QUEM APELA PRÁ CALÚNIA E DIFAMAÇÃO.

Política

Escândalo ou armação?


Fábio Campos
fabiocampos@opovo.com.br
24/09/2010 02:00

Cid e Ciro Gomes envolvidos em escândalo de corrupção que desviou R$ 300 milhões. Da maneira como a Veja divulgou, não foi insinuação, mas sim afirmação. Como é peculiar ao período eleitoral, a “reportagem” foi difundida na internet e principalmente na propaganda eleitoral da oposição. Tanto o PSDB, ex-aliado de Cid e Ciro, como Lúcio Alcântara (PR), que foi vice-governador de Ciro, deram imensa dimensão ao caso em suas propagandas eleitorais. A campanha de Tasso Jereissati, ex-maior aliado de Ciro, jogou fichas na divulgação da reportagem. Ao longo da semana, a reflexão sobre o caso. É difícil e desconfortável imaginar dois personagens que conhecemos há tanto tempo envolvidos nesse tipo de coisa e se relacionando com mercadores de obras públicas nos grotões. O valor da falcatrua agride a lógica. Um desvio de R$ 300 milhões pressupõe obras e repasses financeiros de bilhões. Uma propina de 5% precisa de R$ 6 bilhões em obras para alcançar a cifra de R$ 300 milhões a desviar.

A ANATOMIA DO CASO

Os fatos pareciam aloprados, não? 300 milhões de pulgas atrás das orelhas. Em abril, a Operação Província da Polícia Federal fala em desvios de R$ 30 milhões (10% dos 300 milhões anunciados). Em dezembro, a Operação Gárgula levou 15 pessoas à prisão. Quem foi preso na Gárgula não foi gente ligada a Ciro ou Cid, mas sim a seus opositores (vejam Coluna de ontem). E como a coisa foi bater em Cid e Ciro? No meio disso tudo, uma operação da PF fez busca e apreensão no gabinete do deputado Zezinho Albuquerque, ligado à família Ferreira Gomes. Uma assessora do deputado era investigada pela PF. Pronto, foi o fio condutor para ligar o governador ao caso. Nesse ínterim, o empresário Raimundo Morais Filho, um dos “cabeças” do escândalo investigado pela PF, é convencido a mudar de advogado. Um tal de Paulo Goyaz aparece em sua vida.

MIL E UMA UTILIDADES

Goyaz possui trajetória profissional intensa. Defende mensaleiros, dirige o PTB de Brasília, compõe a equipe de José Roberto Arruda (DEM-DF) e preside o time do Gama (3ª divisão). Boa história é saber como Goyaz, causídico com clientes mensaleiros, parou no colo de “Moraisinho”. Uma pesquisa revela a primeira pista: em 2008, Goyaz advogou no TSE para o insignificante PTdoB numa causa contra a diplomação do maior inimigo de Roberto Pessoa (PR) em Maracanau. Como se diz no Interior, jabuti não sobe em árvore... Dois anos depois, Goyaz monta guarda no Ceará exercendo o papel de principal advogado da coligação PR-PPS. No calor da campanha, vem a Veja com a denúncia dos R$ 300 milhões desviados por Ciro e Cid.

O DIRETOR DO VÍDEO

Em nota, Moraisinho nega que tenha feito a acusação exposta pela Veja. Ontem, novo fio da teia: um vídeo no site da Época. Ao estilo Veja, o texto liga o esquema a Ciro e Cid. Para sustentar a denúncia, a revista solta um vídeo (youtu.be/GR4ZMKTDoAM). Vejam com atenção. Tirem suas conclusões. No texto que apresenta o vídeo, Época confirma o que a Coluna havia dito: Paulo Goyaz era o advogado de Raimundo Morais Filho. É Goyaz quem conduz o “depoimento” de Moraisinho. O texto no site diz: “O advogado Paulo Goyaz é uma das pessoas que participou da reunião (quando o vídeo foi gravado), realizada no primeiro semestre deste ano”. Ou seja, o advogado do suposto acusador do esquema que envolve Cid e Ciro é também advogado do PR no Ceará. Hummm...

O DONO DA VOZ

No vídeo, Morais conta que é responsável por sete empresas. Ao citar o ano de início da operação, se confunde. Diz 2003 e depois 2002. Outra voz sentencia: “2003”. Desconfortável, Morais diz que precisa organizar as informações para uma outra gravação: “Com calma, que vai sair bem bonitinha”. Passa a olhar o relógio. “Desse jeito vai sair mal feito”, diz. Daí em diante, fala pouco e aparenta vontade de encerrar. A voz em off se torna mais presente e passa a ler o roteiro. Morais confirma partes do relato. Às vezes, balançando a cabeça. Outras, murmurando. A seguir, a “voz” constrói a ideia da “delação premiada”. No final, Morais diz que vai pedir a Paulo Quezado, seu advogado inicial, a cópia do processo. Nesse momento, comprova-se que a voz é de Paulo Goyaz. Morais diz: “Agora, Paulo (Goyaz), vou pedir ao Paulo Quezado... o bom é que é dois Paulo!... a cópia do processo”. Goyaz interfere: “Você não fala de mim. Não fala do que estamos conversando”.

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