Com o título “Chico Guerreiro”, eis artigo assinado  por Mário Albuquerque, presidente da Comissão Especial de Anistia Wanda  Sidou e conselheiro da Comissão Federal de Anistia (MJ), em tom de  homenagem ao querido Francisco Monteiro, o “Chico Paseata”. Monteiro  morreu nesta sexta-feira e o enterro ocorrerá às 17 horas, no Cemitério  Parque da Paz. Confira: 
Convivi com o  Chico Monteiro na Casa de Detenção do Recife (PE),  onde dei entrada como preso político por volta de junho de 1971 e ele no  ano anterior, preso com sua esposa- companheira Helena Serra Azul.   Naqueles tempos pós-AI5, cidadãos brasileiros foram forçados a mudar de  cidade para escapar à máquina de tortura e morte da ditadura militar.  Muitos se integravam “à produção”, virando operários ou camponeses, os  sujeitos da mudança histórica que divisávamos próxima e pela qual todos  os sacrifícios valiam a pena. Chico, com Helena, foi um desses.
Estudantes de Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC), foram  pro campo de Pernambuco cortar cana e atuar como fermento para  conscientizar e levantar as massas camponesas na derrubada da ditadura.  Ambos torturados, o casal despertava carinho, medo e proteção nos presos  políticos da Detenção pela juventude, pelo amor que irradiava, pelas  famílias no distante Ceará, pelo filho nascido durante a prisão e que  Helena criava na penitenciária feminina do Bom Pastor, pois eram tempos  inseguros e imprevisíveis.
Em meio a um ambiente de dor e desolação,  de corpos e almas  massacradas pela tortura, Chico mantinha um espírito sempre alegre e  brincalhão, bem na tradição da boa “molecagem cearense”, o que amenizava  o clima adverso. Junto com o Érico, gaúcho, Chico compunha a comissão  de saúde do coletivo dos presos políticos, zelando pela saúde desses,  cuja principal atividade consistia diagnosticar diariamente o estado da  carne que nos era entregue in natura para nós mesmos cozinharmos, sempre  duvidosa, fator de tensão e conflito constantes com a direção do  presídio.
Também junto comigo e mais dois presos políticos, integrava a equipe  de futebol de salão do Cruzeiro, do preso comum Adegilson, espécie de  Íbis do futebol da prisão, que conseguimos elevar à categoria de melhor  time, impondo pela primeira vez uma derrota histórica ao melhor time da  cadeia, o Santa Cruz, protegido da direção e carcereiros. Após dois  anos, Chico deixou a prisão e só voltaríamos a nos ver com a anistia de  79, seguindo-se às campanhas das Diretas, da Constituinte, e mais  recentemente à sua campanha a vereador, da qual fui seu apoiador, e pela  reparação econômica aos perseguidos políticos, juntos às comissões de  anistia de Pernambuco, Ceará e federal.
A sua morte nos abala a todos e morremos também um pouco com ele. Mas  nada de choro. Antes comemoramos sua vida dedicada ao bom combate pelo  Brasil e seu povo.
* Mário Miranda de Albuquerque,
Conselheiro da Comissão Federal de Anistia (Ministério da Justiça)
Presidente da Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou.
Um comentário:
É com muito pesar que recebo a notícia do falecimento desse cidadão com "C" maiúsculo!!
Conheci um pouco mais da história do Chico em, conversas com sua filha; a Professora Dr Janaina Serra Azul, que foi minha professora na graduação e no mestrado, há umas 3 semanas conversei com ela e a mesma me falou que o pai ainda estava internado.
O Ceará e o Brasil perderam uma personalidade das mais destacadas na luta contra a ditadura!!
De Tando reivindicar, de tanto persistir na busca das liberdades individuais e coletivas recebeu o carinhoso apelido de "Chico Passeata" que tanto trabalho deu aos repressores!!
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