Publicado: 7 de março de 2010 às 7:38 (Blog do Eliomar de Lima)
O professor Dardano Nunes de Melo volta a abordar a polêmica em torno da localização do futuro estaleiro Promar. O governador Cid Gomes quer o projeto na praia do Titanzinho, enquanto a prefeita Luizianne Lins é contra.
Confira o artigo:
Estaleiro – Presente de grego?
Certamente que o conflito político entre Cid Gomes e LuizianneLins é diferente daquele que causou a guerra entre Gregos eTroianos(1.300 a 1.200 a.c), mas pode ter nuances parecidas. Tudoocorreu devido ao rapto de Helena, que era esposa do rei Meneleu(nãoconfundir com o secretário de planejamento de Luizianne), quandoParis, filho do rei Priano de Tróia foi a uma reunião em Esparta e seapaixonou pela rainha. O rei magoado, em represália, designou ogeneral Agamenon para atacar Tróia e trazer Helena de volta. A refregadurou 10 anos e nesta luta morreram heróis como Heitor e Aquiles. Ofato mitológico foi real, já comprovado por sondagens arqueológicas na Turquia feitas pelo alemão Heinrich Schliemann. O filho de Aquiles,Neptoleno presenciou a vitória dos Gregos que utilizaram a estratégiade Odisseu, ou seja, foi construído por Epeu um grande cavalo demadeira onde vários soldados gregos ficariam escondidos, o qual seriaentregue aos Troianos como presente e um símbolo de paz. Com o gesto os Troianos se consideraram vencedores e comemoraram até a exaustão e dormiram. Assim os gregos saíram do cavalo e abriram os portões de Tróia para que ela fosse invadida e destruída totalmente.
Sendo o estaleiro um grande presente dos empresários ValdomiroArantes e Paulo Haddad (PJMR) para o povo do Titanzinho, a redençãoeconômica e social do lugar se faz necessário examinar com muitocuidado o que tem por dentro deste presente (cavalo). O governador oachou lindo (1.000 empregos diretos e 5.000 indiretos) e aindaaumenta-o com sessenta milhões de reais.
A Prefeita de Fortaleza parece ter lido os poemas de Ilíadas e Odisséia escritos por Homero (VIII a.c) e a saga da luta, por isto alerta, como responsável maior pelos destinos de Fortaleza, para muitos pontos que podem transformar o estaleiro num cavalo de Tróia.
O planejamento da cidade não previa um estaleiro na capital, pois ao longo dos últimos anos Fortaleza viu o setor industrial migrar para a periferia metropolitana e a cidade se tornar um centro de serviços e pólo de turismo nacional e internacional. A vocação natural e mercadológica da cidade é para o turismo que gera 15% dos empregos e28% do PIB. A importância desta atividade é tamanha no que tange ageração de emprego e distribuição de renda que apenas um hotel 5estrelas com mil leitos gera muito mais empregos que o Estaleiro, ouseja, 1.500 empregos diretos(índice 1.5 de empregabilidade por leito-OMT) e 13.500 empregos indiretos (índice 1 para 9- OMT), índices bemsuperiores ao da indústria. Vale observar que os empregos indiretos daindústria, principalmente do Estaleiro será gerado noutras regiõesfornecedoras, enquanto a cadeia produtiva do turismo é quasetotalmente local.
A característica do emprego na indústria é bem diferente do turismo. No caso da metalúrgica (Estaleiro) é de caráter pesada e altamente especializado. A formação da mão de obra exigirá qualificação superior e técnica (universidades e escolas técnicas) com pré-requisitos de formação elevados e tempo de formação de 2 a 5 anos e no caso do Titanzinho a escolaridade é baixa juntamente com o IDH. A indústria tem elevada tecnologia de automação (pouca absorção de mão de obra). A geração dos 1.000 empregos se dará na construção doequipamento (mão de obra de baixa qualificação) e quando dofuncionamento os empregos se afunilarão.
No turismo, a indústria é leve e pouco especializada, o pré-requisito é nossa nativa hospitalidade para a maioria das funções é de alfabetização e primário, com tempo de formação de 3 a 6 meses. O turismo é uma oferta de serviço de elevada absorção de mão de obra e gera muito mais empregos no funcionamento do hotel do que na construção. Os salários médios pagos no estaleiro é de R$ 900,00(novecentos reais), o que não diferencia muito do turismo. O planejamento não é uma ciência estática e em função da dinâmicaele pode modificar até mesmo o plano diretor, a legislação, etc.
Entretanto esta dinâmica tem que ser evolutiva e voltada para um sentido racional de sustentabilidade econômica, social e ambiental,tudo visando o melhor para a sociedade. No caso do estaleiro há que aprofundar estudos que possibilitem tomadas de decisão certa. Um dos pontos a serem definidos é a compatibilidade ou não do Estaleiro com o turismo, principal diretriz do desenvolvimento de Fortaleza e para onde estão acorrendo os maiores investimentos; Centro de Feiras, Aquário, Copa do Mundo, Projeto Orla, etc, representando bilhões de dólares. Será que o Estaleiro não está na contramão destes investimentos? Pelas características urbanísticas da cidade a paisagem de um estaleiro no Titanzinho, sem dúvida, não seria cartão de visita para a cidade, mas ninguém melhor do que o próprio turista poderia responder o que eles acham da localização, já que eles são os compradores do produto Fortaleza e os geradores dos empregos. Eles deveriam ser os primeiros a serem consultados.
O estaleiro vai impactar um espaço que é da população do Titanzino, assim eles também deveriam opinar e por fim auscultar também o cidadão fortalezense, já que o estaleiro será na cidade. A tendência dos tanques do porto é migrar para o Pecém, a Transnordestina vai para o Pecém, o plano diretor do Pecém prevê estaleiros, por que então não construí-lo lá? A resposta esta na economicidade da obra, no custo benefício, mas isto do lado do empresário, que esconde dentro do cavalo de Tróia (Estaleiro) suas intenções prioritárias de lucro e não de ajudar a comunidade e sem preocupação com sustentabilidade turística, urbanística e ambiental.
Será que o estaleiro vai gerar para a cidade mais empregos e impostosdo que se deixará de ganhar com a retração do fluxo turístico quepossivelmente causará? O senhor Valdomiro Arantes afirmou:- “o estaleiro terá um faturamento, no primeiro ano, de 200 milhões de dólares, logo nos cinco anos serão hum milhão de dólares com os contratos da Transpetro”. Ora, com o pré-sal a Transpetro fará novas encomendas, a Vale esta com um pedido de 52 navios, os Árabes que tiveram seus estaleiros destruídos pelas guerras estão cheios de pedido e por ai vai (60 bilhões de dólares). Se existe mercado, a empresa é sólida, e o Ceará tem uma localização estratégica em função da eqüidistância (Europa-EUA) para receber os componentes para fabricação das embarcações, além de possuir “maritimidade”(cultura com o mar), a industria não é sazonal, porque as ações são imediatistas e meramente economicistas de curto prazo? Isto leva a entender que a PROAMAR fará somente a encomenda da Transpetro e irá virar um entulho de ferro no Titanzinho. Ela não esta acreditando no mercado e nem esta respeitando a tendência do futuro do Ceará; Tudo de Porto no Pecém, industrias no Interior e região metropolitana e em Fortaleza serviços e turismo.
O alerta da Prefeitura também refere-se à possibilidade de graves impactos ambientais na cidade e arredores em função do grande aterro(4 hactares ), a produção de lixo mineral, o impacto na biologiamarinha, etc… Outros aspectos devem também ser levados em conta como impacto social na mudança das atividades de pesca e desporto(surf) da população, a degradação social e econômica das pessoas do bairro caso o mercado encolha e o Estaleiro feche. A ampliação das estruturas portuárias levam sempre, em todo mundo, o aumento da prostituição, fato muito negativo para o turismo saudável da cidade. Aincompatibilidade do Estaleiro com o projeto de urbanização da área.
Estes fatos conjugados podem transformar o estaleiro num presente degrego. Os deputados do PSDB, PMDB e alguns do PT de Cid, nas audiências pública, pareciam cruzar o mar Egeu para atacar Tróia como guerrilheiros do rei(Cid) e defendiam a qualquer custo a geração dos 1.000 empregos para a comunidade. Não raciocinavam eles que os 60 milhões da contra-partida do Estado para a construção do Estaleiro poderiam representar 15.000 empregos diretos e 60.000 indiretos se fossem aplicados no Titanzinho em cooperativas de economia solidáriadentro da cadeia produtiva do turismo, no contexto de um distrito temático (o celebre navegador espanhol Vicente Ianez Pinzon-descobrindo o Brasil no Rostro Hermoso de Fortaleza 4 meses antes de Cabral avistar o Monte Pascoal e ou o Castelo Encantado do Mucuripeonde Iracema a virgem dos lábios de mel ia chorar a saudade de Moreno o amado guerreiro branco de alem mar).
Qual a diferença entre Luizianne e Cid? O capitalismo liberal(neoliberalismo) tem uma mão invisível que é a força do mercado, ela impera e manda e a população obedece. Ela é a lei que todos devem curvar-se. Na social democracia participativa as políticas são orientadas pelas pessoas, onde a vontade da maioria predomina. Cid e o PSDB vem da escola de Adam Smith e por isto atropelam as políticas participativas de Luizianne e do PT. O que não combina são os estilos de condução dos processos de gestão de Cid e Luizianne. A gestão compartilhada é muito mais difícil, lenta, filosófica, pragmática, busca a decisão coletiva e descentralizada, controle menos rígido, variáveis intangíveis, valoriza mais os objetivos que as metas, o principal é o bem estar social. A gestão liberal vai na direção do mercado, é mais fácil, individual, centralizada, rápida e menos pragmática, 100% de controle, variáveis tangíveis, trabalha mais com metas do que com objetivos, o principal é fazer caixa para investimentos em infra-estrutura básica e produtiva.
Qual dos dois modelos é o melhor? O melhor seria a junção dos dois e o velho prefeito Juraci Magalhães certa vez me disse uma coisa que até hoje, como profissional do planejamento fico a pensar em como compatibilizar; o “fazejamento” e o planejamento; eu levo minha gestão fazendo e planejando, planejando e fazendo. Vendo seu estilo aprendi um pouco. Ele fazia uma participação direta ouvindo a população nos bairros( a coleta da informação era feita por ele mesmo), mas infelizmente não era bem discutida, por outro lado ele não perdia tempo e fazia, principalmente aquilo que não tinha que se discutir, era para ontem. Se os estilos de Cid e Luizianne fossem iguais, talvez não estivesse havendo esta polêmica do Estaleiro e quem sabe ele seria um presente do bem e não um presente de grego.
Dárdano Nunes de Melo
Prof. do IFCe e diretor do Sindicaturismo