sábado, 9 de maio de 2009

AINDA SOBRE CORRUPÇÃO.



Há no mercado um livro de quase 600 páginas tratando do tema da corrupção de forma profunda e abrangente. Chama-se Corrupção - Ensaios e críticas, organizado por Leonardo Avrittzer, Newton Bignotto, Juarez Guimarães e Heloisa Maria Murgel Starling. A obra foi editada pela Editora UFMG no final de 2008. O tema é dividido em três seções: teoria política e corrupção; corrupção, história e cultura; e questões atuais da corrupção. Na segunda seção, que analisa a corrupção na História do Brasil, o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho assina um ensaio sob o título “Passado, presente e futuro da corrupção brasileira”. De início, o autor mostra a corrupção política como fenômeno histórico antigo e mutante até que, a partir de 2005, os escândalos passam a surgir com regularidade quase monótona. A partir daí, ele então lança três perguntas: A corrupção de hoje é a mesma que há de 100 anos atrás? Há mais corrupção hoje do que antes? Aumentou a corrupção ou aumentou a percepção dela e a postura diante dela?” Colocadas as questões, Murilo de Carvalho passa a respondê-las.

O PERSONAGEM E O SISTEMA

Acerca da mudança semântica: “Mudou o sentido da corrupção. As acusações de corrupção dirigidas ao Império e à Primeira República não se referiam a pessoas, mas principalmente ao sistema”: “Corruptos eram os sistemas, monárquico ou republicano, por serem, na visão dos acusadores, despóticos, oligárquicos e não promoverem o bem público”. A mudança semântica se dá a partir de 1945. A UDN batia então na corrupção individual, nos políticos getulistas e no próprio Vargas. Em 1964, os corruptos, como os subversivos, tinham nome. Collor caçava marajás, pessoas. Tal tradição, que se firma desde 1945, ganha o nome de “udenista” e está presente hoje na grita contra os mensaleiros e outros predadores da coisa pública. Ao mesmo tempo, também se faz presente “um ingrediente sistêmico de caráter ideológico, análogo ao do Império e da Primeira República”.

O TAMANHO DO ESTADO

Para o autor, mudou a dimensão da corrupção, que depende da natureza e do tamanho do Estado. “Quanto mais despótico o Estado, maior a corrupção pela dificuldade de combatê-la. Quanto maior o Estado, quanto mais recursos ele controlar, maiores as oportunidades de corrupção. Ora, desde 1930, houve um crescimento da máquina estatal, agravado na ditadura militar, que “ampliou as oportunidades para as práticas clientelísticas e patrimoniais e aumentou o predomínio do Executivo sobre o Legislativo”. Brasília agravou mais ainda, haja vista que tirou congressistas e executivos “do controle das ruas”. Mais oportunidade de corrupção gera mais corrupção quando há impunidade. Esta prospera nas duas ditaduras e na democracia graças à ineficiência dos sistemas policial e judiciário. Portanto, atualmente, há mais corrupção e com maior amplitude porque permeia uma máquina cada vez mais gigantesca.

CLASSE MÉDIA ISOLADA

Segundo o historiador, mudou também a reação à corrupção: “Reagem contra a corrupção os que dela não se beneficiam e que, ao mesmo tempo, dispõem de recursos para identificá-la e combatê-la. A reação à corrupção varia na razão direta do tamanho da classe média. Essa classe é a que está mais cercada pela lei em função de sua inserção profissional”. A classe média tem alta escolaridade, daí visão crítica da política e de seus agentes. Por isso, forma a opinião pública (que não é a popular). Quanto “maior a classe média urbana e piores as suas condições de vida, maior a grita por moralidade”. Mas houve mudança nessa grita. A classe média permanece à frente da luta contra a corrupção, porém sem a solidariedade dos que estão nos andares abaixo e acima dela (os principais beneficiários do governo nos últimos anos). Assim, “a classe média está sozinha, não tem a cumplicidade dos pobres nem dos ricos”. Com isso, observa-se o distanciamento entre a opinião pública e a opinião popular.
(Fábio Campos - Jornal O POVO - 09.05.2009).

4 comentários:

Deodato Ramalho disse...

Prestem atenção na parte final do texto. Realmente, os pobres (de regra), a quem o combate à corrupção beneficiam, são os que não apenas não dão importância ao tema como até mesmo criticam os que denunciam os corruptos. Quantas vezes fui atacado, e aí sou, aí em Boa Viagem porque sempre encampei essa luta? Evidentemente que os pobres que assim agem, o fazem por desinformação, não por má fé. Diferente, portanto, de segmentos que compactuam com os corruptos e com a corrupção por que deles e delas se beneficiam.
Felizmente, o tempo vai mostrando que essa luta é cada vez mais necessária. E cada vez mais vem aumentando o número de pessoas que se preocupam com esse câncer.

Arnaldo Cavalcante disse...

Deodato, nesta semana assistindo a uma sessão da CCJC do Senado, fiquei surpreso com o comentário do Sr. Senador Demostenes, que é o presidente da CCJC, que disse que seguindo uma reportagem da revista VEJA , 80 bilhões de reais eram surrupiados pela corrupção politica no brasil, e ele disse que faria um pacto com os politicos para surrupiar só 50 bilhões, para que os outros 30 bilhões sobrassem para implantar os alunos na escola em tempo integral, mesmo sendo dito de forma de critica é triste escutar um comentário deste de um Senador em uma comissão tão importante para o pais. imagine uma coisa desta.

Deodato Ramalho disse...

Vejam, abaixo, o resultado da nossa Enquete
Você confia nos Vereadores de Boa Viagem?

Sim 3 (12%)

Não 14(56%)

Mais ou menos 8 (32%)

Como se vê a ampla maioria não confia nos nossos vereadores (56%). Somando-se os que não confiam com os que confiam em parte (32%) teremos o índice de 88% (oitenta e oito por cento) de desconfiança. Apenas 12% (doze por cento) afirmam que confiam nos edis boa-viagenses.
Estranho, não? Afinal, todos os vereadores estão em início de mandato e foram, obviamente, escolhidos pelo voto "livre" e secreto dos eleitores. Qual a indicação disso?

Alfredo Carlos ! disse...

Nessa coluna desse rapaz Fábio Campos, só sai coisas boas, temas de grande importância e bastante atualizados. Nessa parte final em que o Dr. Deodato fala em desinformação dos mais pobres, aí é onde que entram os aproveitadores daqueles que possuem situação dificil na vida. Já ví gente pesada em Boa Viagem afirmar o seguinte: O eleitor pobre prefere 100 reais a ter os serviços de saúde melhorado, por isso vendem o voto. Vendem o voto naquele dia e nunca mais encontram o Vereador na cidade. Essa é a triste constatação, que precisa urgentemente ser revista pelo próprio eleitor.