ASSIM, VALE A PENA SER "BOM DE VOTO"?

(Andrea Araújo)

Sempre pode ser pior

30.07.2011| 14:00

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O episódio dos banheiros e seus desdobramentos, que O POVO tem mostrado nas últimas três semanas, dão a impressão de que tudo sempre pode ser pior. Afinal, não basta nomear apadrinhados para cargos públicos, mesmo que estes nunca compareçam ao trabalho, não basta desviar recursos que deveriam custear banheiros em casas de pessoas pobres, não basta que esse dinheiro aparentemente tenha sido usado para bancar a campanha eleitoral de um político absolutamente inexpressivo, mas que, por essas e outras, acabou vencendo como o quinto mais votado do Estado. Não há limites para o uso inapropriado do que é público em nome do poder e do favorecimento próprio. Vale até mesmo engabelar toda e qualquer fiscalização possível e imaginável para ficar com dois salariozinhos do serviço público, um de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e outro do Incra, como aposentado. E olha que não se trata de uma aposentadoria qualquer, não! Trata-se de um caso raro, um benefício conseguido após 31anos de labuta no órgão público federal, mas aos 43 anos, o que significa que esse jovem trabalhador começou seu ofício precocemente aos 12 anos de idade! 

E toda essa situação pode ficar ainda pior. Sim, porque Teodorico Menezes, personagem principal de toda essa história, pode sair ileso de qualquer processo. Basta pedir a aposentadoria também do TCE, algo absolutamente factível e que deverá ser incentivado até por seus pares, como meio de limpar o nome da instituição. O que não significa que ele perderá o poder. Com o filho Téo Menezes (PSDB) deputado, seu mando fica apenas terceirizado, mantendo-se todas as práticas tradicionais para o seu exercício.

E tudo pode ser ainda pior. Sim. Porque nos acostumamos a achar normal que políticos acumulem aposentadorias e salários mesmo com pouquíssimos dias de trabalho em determinado cargo – o conselheiro e ex-governador do estado Chico Aguiar, também do TCE, que o diga -, nos habituamos que eles simplesmente sumam sem dar explicações do que devem, fazendo com que o tempo os absolva de todo o mal.

Mas será que isso é um mal insanável, algo inerente ao comportamento humano? O homem é mal por natureza e a corrupção algo que nunca acabará? Essas são questões que perpassam boa parte das discussões filosóficas, passando por Rousseau, que crê no homem natural bom, e por Hobbes, que vê no ser humano o mal, o seu próprio “lobo”. Impossível afirmar que esse é um problema da natureza humana, porque, felizmente, só de algumas pessoas se indignarem diante de tantas distorções, é possível crer que nem tudo está perdido. Dá para acreditar que existem sim pessoas de bom caráter, com boas intenções, com boa vontade para buscar o bem. E que elas podem estar na vida pública atuando em prol da sociedade, não só buscando se beneficiar. As relações de poder da forma como se dão hoje tornam essas pessoas minoritárias na esfera pública, mas isso pode mudar. E é papel de cada um de nós contribuir para isso acontecer de fato, e de forma simples: educando os nossos filhos para crescerem nutrindo uma forte indignação pelo que é errado, e com vontade de ver a mudança acontecer; não estimulando pequenas ações que só estimulam a discriminação, o preconceito; cobrando coerentemente uma postura justa e honesta de nossos representantes e não o “cada um por si” ou o “jeitinho” para se dar bem. A mudança tem que começar em casa, não há milagre nem fórmula mágica para que aconteça. Quem sabe a geração do meu filho não vai mais achar normal relacionar a política à corrupção e ao crime. Porque não é normal!

Kamila Fernandes 

kamilafernandes@opovo.com.br