quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

100 ANOS DO MEU TIO/AVÔ APOLÔNIO CAVALCANTE MOTA: EM PLENA SAÚDE FÍSICA E MENTAL.

100 anos de APOLÔNIO CAVALCANTE MOTA / Trabalho e dignidade durante a vida; lucidez, saúde e simplicidade no centenário
Posted by Anderson Mota on fevereiro 8, 2011
Jornal Observatório dos Inhamuns.
Os cem anos de Apolônio Cavalcante Mota, completados em 08.02.2011,
serão celebrados hoje pela família Cavalcnate Mota,
em grande festa na cidade de Fortaleza

Com a mesma lucidez da juventude, autonomia e independência nos seus atos e um semblante revelador de que o tempo foi generoso com ele. Esse é Apolônio Cavalcante Mota, que completa hoje (09/02/2011) 100 anos de vida. A nossa costumeira jornada de baralho (Pif-Paf), na manhã de 27/01/11, foi trocada por uma conversa em que ele me contou fatos da sua vida e eu apenas relato. Depois, almoçamos um peixe de água doce, quando ele deu uma aula de como ‘espinhas’ não atrapalham na hora de comer.

Nasceu em 09 de fevereiro de 1911, na Fazenda Todos os Santos, distrito de Marruás, em Tauá (CE). Filho de Aureliano Cavalcante Mota e Amélia Carvalho Mota.Até os 28 anos de idade viveu nesta Fazenda, de propriedade de seus pais, numa época em que a grande maioria da população de nosso país habitava no campo.É o 6º de uma irmandade de onze (Abílio C. Mota; Alice; Ataciso; Agostinho; Isabel; Ademar; Mariquinha; Adauto; Absolon e Alaor). O primogênito da casa, Abílio, contava dez anos a mais do que ele e o caçula, Alaor, 12 anos a menos. Cresceu, portanto, na igual convivência de irmãos mais velhos e mais novos. A criança pacata e amiga de todos já foi um traço da personalidade de Apolônio. Teve mais dois irmãos: Laudi (sobrinha/irmã) e Edvar, também adotado por seus pais.

Brincadeiras ali não faltavam. No jeito da época; a natureza ditando as regras: não se tinham grandes preocupações e o clima agradável da serra de Santa Rita era tempero para uma vida saudável. A gente de lá parecia ignorar o tempo e por isso este não somava tanto para o futuro; só para contar depois. Quem conhece o passado do povo do Marruás sabe que a vida média dos seus filhos esteve à frente da nacional e principalmente da nossa sofrida região nordeste, durante o século XX.
O pai foi quem deixou essa vida mais cedo, em 1945, aos 66 anos de idade. Excluindo os irmãos mais novos, Alaor e Absolon, que faleceram aos 69 e 72 anos, os demais foram octogenários e nonagenários, inclusive sua mãe, que viveu até os 96 anos. Ainda hoje repartem com ele esse momento, Mariquinha , com 95 anos, Laudi, que já passou dos 80 e Edvar, na mesma pegada.Até o início de sua juventude, o ambiente conhecido por ele era o da sua terra, povoada pelos seus parentes, além de outras pessoas muito ligadas à família. Esses valores, família e berço, ficaram muito marcados em sua vida.O menino de 04 anos não entendeu bem, mas, já percebeu que alguma coisa andava errada naquele ano de 1915. Uma tremenda seca assolara o sertão e os efeitos foram devastadores. Foi um teste de resistência para o pequeno Apolônio e uma primeira lição de que a vida também nos faz provações. Uma passagem somente, porque a natureza logo depois voltou a sorrir e fazer par à vida alegre e divertida daquele garoto que aprendia também o caminho da roça e da igreja com os seus pais. O primeiro, diremos depois, não lhe agradou, mas, o segundo lhe fez devoto da padroeira Santa Rita. A mãe, bastante religiosa, cultuava também Nossa Senhora da Conceição.Freqüentou as primeiras letras nas escolinhas das professoras Mavinieux e Mirosa. A elas, deve o aprendizado de ler e escrever; ainda se recorda do estilo severo com que as lições eram repassadas, mas, isso não lhe deixou nenhum trauma. As duas foram sempre lembradas como pessoas importantes em sua vida.Tomar banho de açude e nadar no rio durante as enchentes; andar de canoa; pescar; caçar (tinha onça, gato maracajá, veado etc.), animais já extintos atualmente naquela área; criar pássaros em gaiolas e jogar com bola de bexiga no campinho da várzea; colher frutas nos pomares e perambular pelo engenho de rapadura e casa de farinha da fazenda era uma grande animação para todos os pequenos da casa.

Cedo, Apolônio e os irmãos começaram a ajudar o pai no trabalho. Recolher o gado para os currais, plantar e ajudar em tarefas domésticas fazia parte das suas atividades. Numa das vezes, manejando equipamentos do engenho, fraturou um dedo da mão (até hoje guarda essa marca) e este foi mais um motivo para alertá-lo de que sua vocação era outra, diferente da tradição de várias gerações de seus antepassados, dedicados à agropecuária. Fugiu desse modelo, apesar de permanecer nessa atividade até os 21 anos de idade.O ano era 1931 e Apolônio resolve conversar com os seus pais e pedir o apoio deles para fazer outra coisa. Pegou 03 vaquinhas suas e vendeu; montou uma pequena mercearia na Fazenda Todos os Santos, ao lado da sua casa. Mercearia Santa Rita, era como se chamava; logo virou uma loja de tecidos, também. 02 anos se passaram e o jovem comerciante prosperava.Em 1933, transferiu seu ponto comercial para Vila de Marruás; as condições já eram bem melhores. Para se transformar no maior comerciante do distrito foi rápido. Comprava a maior parte da produção de algodão, mamona, oiticica, milho e feijão dos produtores da redondeza e formava grandes lotes de ‘comboios de animais’ (jumentos e burros) para transportar até as cidades de Mombaça e Senador Pompeu; lá, vendia tudo aos usineiros, que beneficiavam os produtos para revenda. Os ‘comboieiros’ voltavam para Marruás com novas cargas de mantimentos para abastecer o comércio e suas próprias residências; um deles montava o cavalo de boa sela que havia conduzido o proprietário da Loja a Mombaça ou Senador. Aproveitando o caminho da capital, Apolônio pegava o trem em Senador Pompeu e se dirigia a Fortaleza; mais um dia gasto em viagem para chegar ao destino. Quando retornava, todas as novidades da capital, em linhos e brins, além de outros panos menos sofisticados, enchiam as malas e pacotes que superlotariam a sua loja.
O rapaz que trabalhava muito tinha tempo de sobra para freqüentar as grandes festas da região, começando por aquela que era uma das maiores – a da padroeira Santa Rita, no Marruás. Sempre vestido a caráter, em linho branco, manteve esse costume por várias décadas. Durante todo o ano não faltavam os grandes forrós e sambas, puxados a harmônicas (sanfonas), rebeca, pife e pandeiro. Era nestes momentos que o jovem simples, que nunca perdeu a humildade, escapava pelo orgulho de ser bastante cortejado pelas moçoilas e não desperdiçava a oportunidade de namorar as sertanejas mais formosas que se apresentavam como ‘presas’ fáceis para o jovem galanteador. Nessas ocasiões se apresentava sempre com seu cavalo famoso e de boa montaria. A juventude foi muito bem aproveitada; em duas ocasiões chegou a marcar noivado, mas, somente aos 28 anos (idade avançada para época) resolve se casar. Uma bela mulher, 10 anos mais nova do que ele, sua prima Ananias Cavalcante Mota, conquistou rápido o seu coração e não dava mais para esperar: no dia 14 de setembro de 1939, o seu amigo Padre Odorico, celebrou o matrimônio.Iniciava um novo ciclo da sua vida e neste momento se revelava mais uma vez o bom gosto do recém-casado: a primeira cama de casal de fábrica e montada com colchão moderno chegava a Marruás, juntamente com outros móveis de luxo, de bom estilo, para agradar a sua amada e confortar-lhe. Foram 70 anos de vida conjugal, compartilhados com muito amor e cumplicidade, sem jamais lhes faltar os valores sagrados de uma união abençoada por Deus. Espírito e matéria, sempre bem alimentados.Um fato que lhe traz recordação foi a chegada do primeiro carro à Vila de Marruás – um Jeep Willys, de propriedade do Padre Odorico. Um dia que ficou para a história na festa de Santa Rita, naquela longínqua quarta-feira de 22 de maio de 1941. Os curiosos não continham a sua admiração e deslumbramento. Foi a vez do Padre faturar – cada passeio da Igreja até à várzea, localizada a cerca de 500 metros (ida e volta), custava Rs 1$000 (mil réis). A sacola do dono do Jeep voltou cheia de cédulas e moedas para a cidade e somente o cofre da Matriz lhe superou em arrecadação.

Aflições fazem parte da vida terrena e o casal teve as suas. Ananias teve aborto do primeiro filho gerado; o segundo, faleceu com 01 ano e 04 meses e o terceiro, com 01 ano e 08 meses. Hora em que o casal apelou pela intercessão de Santa Rita e a graça foi alcançada. Em meio à promessa, a nominação dos filhos de Luis e Luiza. Nasceram em Marruás Luis e Luiza.E vieram mais 05 em Tauá: Luis Aureliano, Luiza Anélia, Luiza Amélia, Luiza Apolônia e Luis Enéas. Todos criados de maneira a que pudessem progredir na vida. Nada lhes faltava de bens materiais, nem de boa orientação.O casal resolveu fazer mais: o primeiro neto foi acolhido no seu nascimento como filho; Solano representa duplamente a condição de neto/filho ou de filho/neto. Portanto, foram 08.Retomemos o curso da sua história. Os primeiros rádios apareceram ali na década de 40, da marca Zenith e Apolônio comprou o seu. Ouviam-se notícias de uma guerra de que se tinha conhecimento somente pelo ‘chiado do noticiário’. Em 1945, parava-se de falar da guerra e a família era abalada com o falecimento do seu pai Aureliano Cavalcante Mota, no dia 03/09; o coração surpreendeu ao homem que ainda se mostrava com todo vigor, mas ele não acordou naquela madrugada. O comerciante de Marruás resolve enfrentar um novo desafio: em 1947, junta os pertences, coloca à venda e se muda para cidade de Tauá. A Casa Santa Rita agora tinha outras dimensões: fazia parte de uma nova realidade em que dividia com outros comércios similares o mercado local. Tudo correu muito bem e o prédio, antes alugado, foi adquirido em compra. A família, também, começava a crescer com o nascimento dos filhos.Nesta época, havia trocado a luz da lamparina pela do motor, que funcionava entre as 18 e 21 horas; para outras necessidades, dispunha da lâmpada petromatic (outra novidade), que dava boa claridade, necessitando apenas que fosse abastecida de gás. A década de 50 foi quando aconteceu o nascimento da maioria dos filhos e uma grande casa, no centro da cidade, foi comprada para acomodar bem a todos. Ainda hoje pertence à família.
Nos anos 60, a Casa Santa Rita vai se firmando cada vez mais como uma tradicional loja da cidade; os filhos crescendo e estudando; e outra novidade: a luz de Paulo Afonso – 24 horas de energia elétrica disponível para os moradores. Antes de seu final, nascem os primeiros netos.Alguns sobrinhos e sobrinhas vieram residir em sua casa para estudar – Vilmar, Zé Airton, Antonio Agostinho e Ananias (da tia Alice). Houve quem trabalhasse em sua loja, como Alaor Filho.
Foi um tempo de turbulências políticas. A ditadura impõe o bipartidarismo e os governistas se acomodam na Arena. A oposição ao regime tem o MDB como opção. Apolônio é um dos 25 membros fundadores do MDB de Tauá e se elege como presidente da executiva municipal. Em 1970, concorre à Prefeitura, mas, é derrotado nas urnas.
Uma nova década, outros acontecimentos. Perde o filho Luis, que prematuramente morre em acidente de trânsito. Um grande choque para toda a família – era um homem querido por muitos.Chegava o momento dos filhos precisarem estudar em Fortaleza. Para isso, compra um Apartamento, que se transforma em ‘casa de estudante’. A maioria concluiu a faculdade que desejou. Depois, foram os netos que receberam o mesmo apoio do avô. Muitos deles, com a mesma atenção dos filhos para prosseguirem na sua formação acadêmica.Anos 80; o trabalho continuava no mesmo ritmo para o jovem que montou a mercearia em Todos os Santos no ano de 1931; pouco tempo antes, um incêndio destruiu parte da loja, sendo o prédio desta feita reconstruído em 02 pavimentos.Enquanto isso, os netos cresciam. Essa foi uma geração ainda mais assídua às universidades. Em seguida, os bisnetos começaram a aparecer e hoje já são 16 entre nós. Os trinetos já andam próximos e deverão ser muito festejados.No ano de 2004, sua esposa Ananias passa a necessitar de cuidados médicos especializados e ele resolve lhe acompanhar e residir em Fortaleza. Não teve nenhuma dificuldade em se adaptar ao novo estilo de vida.Faltou dizer que durante os últimos 65 anos ela foi uma companheira de todas as horas, inclusive em suas atividades comerciais. Só neste momento, ele com 94 anos e ela com 84, deixaram de trabalhar. Depois de 73 anos ininterruptos do lojista, Apolônio troca os afazeres do comércio pela atenção exclusiva a sua querida Ananias, que agora necessitava de seu apoio para enfrentar a enfermidade que lhe acometeu. Esteve ao seu lado, sempre lhe dando carinho e atenção até os seus últimos dias, em junho/2009. Aos 98 anos, poder-se-ia imaginar que este senhor se deixasse abater por mais essa provação. Muito pelo contrário, ainda hoje tem o seu pensamento voltado para eventuais dificuldades de filhos e outras pessoas da família que precisem de sua ajuda.Para os que conhecem bem Apolônio Cavalcante Mota ficaria incompleto qualquer referência que não dissesse de 03 características muito pessoais suas de que não falamos até aqui: Um joguinho de baralho como hobby; a distração, que já lhe rendeu tantas histórias e o grande número de amigos que cultivou ao longo da vida.O baralho ainda hoje pratica, especialmente, com o seu genro Tarciso e, às vezes, com o sobrinho Anderson e outros amigos que lhe visitam. Da distração, tem-se conhecimento de ocasiões em que esqueceu até os nomes das namoradas, da esposa e de filhos; compensa isso com uma excepcional capacidade de guardar fisionomias. Quanto aos amigos, foram incontáveis e são tantos que não escorregaremos na injustiça de citá-los, pois deixaríamos de registrar muitas pessoas que mereciam ser destacadas.Poucas pessoas no mundo têm ou tiveram o privilégio de alcançar um centenário de vida com tanta lucidez e afabilidade. Hoje, tio Apolônio, o dia da tua família e de teus amigos pertence ao senhor e todos nos curvamos à sua grandeza. Que Deus nos dê luz para compreendermos que agir assim, no futuro, seja apenas uma obrigação nossa.

FAMÍLIA (em 08 gerações)

Pais: Aureliano Cavalcante Mota e Amélia Carvalho Mota.Avós:Vicente Ferreira Mota e Maria Linda Mota / Agustinho Silveira de Carvalho e Isabel Cavalcante de Carvalho.Bisavós: Victor Cavalcante de Carvalho e Luciana de Barros Mota de Carvalho; José da Motta Sousa e Maria de Sousa Mota; Manoel Nascimento Motta e Anna Angelim Motta.Irmãos: Abílio C. Mota; Alice; Ataciso; Agostinho; Isabel; Ademar; Mariquinha; Adauto; Absolon; Alaor; Laudi e Edvar.Esposa: Ananias Cavalcante Mota.Filhos: Luiza; Luis (in memorian); Luis Aureliano; Luiza Anélia; Luiza Amélia; Luiza Apolônia; Luis Enéas. Solano (neto/filho).Netos (18): Avelange, Luiza Ananias, Carlos Windson, Neire Lande, Solange, Sinolano (in memorian), Solano, Sinolândia, Cirlândia, Juliana, Leonardo, Danielle, Lívia, Jéferson, Jéssica, Eveline (in memorian), Victor, André Luis.Bisnetos (12): Vanessa, Francisco, Pedro França, Fernando, Greyce, Luis Neto, Avelange Jr., Lucas, Raul, Maria Clara, Gabriela, Jénifer

3 comentários:

Anônimo disse...

É uma falta de respeito o barulho que esses pessoal faz na praça monsenhor josé cândido (rua da Igreja). ninguém consegue dormir nos fins de semana pq sempre tem um som alto na rua até as duas horas da madrugada e pessoas bebendo nas calçadas como se ali fosse do bar e ignoram as residências que querem paz e sossego.

Esse prefeito e a câmara municipal não tem o mínimo de respeito para com o repouso dos idosos.
Tem q existir uma lei que proiba esse falta de senso e respeito pela vida em sociedade. Ninguém é obrigado a conviver com um barulho que só agrada a poucos. A liberdade de cada individuo encontra limites quando fere direitos de outros.

CARLOS disse...

anonimo esta cidade esta entregue as baratas deste do inicio desta administraçao, O Prefeito nao tem respeito por ninguem a nao ser pelas coisa dele, tambem com esta camrara de saf..... e o pior e que a propria lei teme ele, pois a lei do silencio nunca funcionou aqui, ate o proprio RONDA ja temho minhas duvidas, aqui em boa viagem tudo vira mudiça

Prof Alfredo Carlos ! disse...

Deodato, pelas fotos bem se vê que o Sr. Apolônio está em perfeita forma, bem lúcido e contando casos e causos de sua época. Sua época, apesar das dificuldades foram anos de ouro, família unida, todos trabalhando pelo mesmo ideal, festas de padroeiras, aniversários dos parentes, tudo isso une muito os familiares e amigos mais próximos. Meus parabéns ao Sr. Apolônio, extensivo à toda família Cavalcanti e Mota