EM BANHEIROS SABEMOS NÃO, MAS EM PASSAGENS MOLHADAS ESSE PESSOAL DO PSDB É "ESPECIALISTA".

Os requisitos e a bizarrice

Fonte:  O POVO Online/Colunas/politica

O escândalo encaixa-se, ponto a ponto, na triste cultura política dos últimos tempos

18.07.2011| 01:30

Na última segunda-feira, aqui foi dito o que está por trás, no mundo da política real brasileira, das listas da maioria dos políticos eleitos. Sob o título “A fórmula do sucesso”, demonstrou-se os principais requisitos que explicam os “fenômenos” de voto. Recordando: ter influência sobre o partido, dispor de muito dinheiro, exercer mandato, possuir sobrenome forte e estar ligado a estruturas que mexam com verbas públicas. Menos de três dias depois, bingo! Estourou o caso de Pindoretama. Conforme O POVO manchetaria nas edições seguintes, o Ceará deparou-se com o episódio de uma associação cultural “especializada” em construir banheiros, que só existia no papel, comandada por uma funcionária do órgão oficial de fiscalização. Na sequência, descobriu-se que ela doou dinheiro acima do permitido para um deputado estadual. Os banheiros públicos, mesmo fictícios, renderam muitos votos para o parlamentar eleito, que na condição de deputado tem assento garantido nas decisões importantes de sua sigla.

O escândalo encaixa-se, ponto a ponto, quase que perfeitamente, na triste cultura política dos últimos tempos, descrita por este colunista na semana passada. O “quase” fica por conta do parentesco do parlamentar, que vem a ser filho do presidente do órgão fiscalizador. Mas aí já era bizarrice demais para prever.

O BRASIL DAS PINDORETAMAS

A fedentina política que emana dos banheiros públicos de Pindoretama (foto abaixo) deixa lições e perguntas. Primeiro, as lições. A principal delas, também já destacada aqui (27/6), diz respeito à lógica inversamente proporcional entre o estilo de vida das elites políticas e as cidades que dizem representar. Historicamente patrimonialista, nossa classe política mantém o controle de municípios, como forma de se reproduzir no poder e ampliar riquezas pessoais. Para isso, contam com os interesses, não menos perversos, das elites locais. Na contramão, temos cidadezinhas onde falta praticamente tudo em serviços públicos e qualidade de vida. Pindoretama não foge à regra. Com o menor PIB da região mais rica do Estado, a Metropolitana - o que o deixa, proporcionalmente, como um dos mais miseráveis -, o município é quase perdido no mapa do Ceará. É o menor em área geográfica e um dos menos habitados. Com uma economia eminentemente agrária, não espanta, por estes e outros motivos, que o município possua um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do Estado.

A REAÇÃO DE CADA UM

Outra lição: quando veio à tona o caso dos banheiros, o Ministério Público Eleitoral já tinha notificado a presidente da Associação Cultural de Pindoretama, Renata Pinheiro Guerra, por doação irregular para a campanha do então candidato à reeleição para a Assembleia Legislativa, Téo Menezes (PSDB). É mais uma demonstração de que o órgão está agindo em um ritmo bem acima da média de outras instituições. Vejamos. Apenas quando o caso estourou, o presidente do Tribunal de Contas do Estado e pai do deputado, conselheiro Teodorico Menezes, onde Renata trabalhava, resolveu exonerá-la. Também tardiamente, a Secretaria das Cidades instaurou sindicância para apurar o caso no município e suas possíveis ramificações. Da mesma forma, o PSDB de Téo adotou o discurso da faxina ética e mandou o próprio Ministério Público investigar as doações. Pobre dos órgãos públicos e partidos que só agem quando o estrago já está feito.

Agora, as perguntas: os R$ 400 mil que saíram dos cofres da Secretaria das Cidades direto para a Associação Cultural de Pindoretama tiveram algum tipo de ingerência política do deputado do PSDB? Em caso afirmativo, verbas do tipo teriam a ver com a dificuldade que parlamentares tucanos têm para se assumirem como oposição ao Governo do Estado? A última: quantas Pindoretamas existem mesmo no Ceará?